segunda-feira, janeiro 15, 2018

IMAGINÁRiO #698

José de Matos-Cruz | 08 Março 2019 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

SOBREVIVER
Entre crises e casos, euforias e singularidades, o cinema português celebra uma existência mais que centenária, superando-se em indústria precária pelo engenho artístico ou pela motivação documental. Em 2000, José Nascimento realizou Tarde Demais, sendo ainda argumentista com João Canijo. Em causa, uma história nossa, recente e trágica. Quatro homens tentam sobreviver ao naufrágio de uma velha canoa de pesca, no meio do Rio Tejo, entre Lisboa e Alcochete. Após as longas horas de submersão, esperam uma baixa da maré para poderem caminhar entre os bancos de ostras, e chegarem a uma das duas ilhas aluviais. As opiniões dividem-se. Os conflitos adensam-se. A separação é inevitável. Porém, os caminhos escolhidos reservam perigos e sacrifícios inesperados… A estrutura clássica permite caracterizar todo o matiz humano, pelo recorte evolutivo de cada uma das personagens várias. Assim implicando o vínculo que partilham, sob uma desgraça na qual se debatem, com a mera e intrínseca coragem da persistência. Ora, em tal intenso transe subjugadas, o domínio fluvial é determinante, na sua natureza caprichosa e ameaçadora. IMAG.53-77-189

CALENDÁRiO

1930-09OUT2017 - Jean Raoul Robert Rochefort, aliás Jean Rochefort: Actor e cineasta francês, intérprete de O Relojoeiro / L’Horloger de Saint-Paul (1973 - Bertrand Tavernier) - «A sua elegância era uma simplicidade que lhe ficava bem» (Guy Poisley).

10OUT-31DEZ2016 - Alfândega do Porto apresenta The World of Steve McCurry (EUA) - exposição de fotografia com curadoria de Biba Giacchetti e cenografia de Peter Botazzi. IMAG.615

18OUT2017-29ABR2018 - No Porto, Galeria da Biodiversidade | Centro Ciência Viva expõe National Geographic PhotoArk - A Nova Arca de Noé de Joel Sartore.

19OUT2017 - NOS Audiovisuais estreia Porto (2016) de Gabe Klinger; com Anton Yelchin e Lucie Lucas.

COMENTÁRiO

Hector Berlioz

Antes das visitas de Berlioz, praticamente não existia, na Rússia, uma verdadeira música académica. Foi o seu paradigma que inspirou o género… Para a sua Terceira Sinfonia, Pyotr Ilyich Tchaikovsky serviu-se da Sinfonia Fantástica como se de um posto de gasolina se tratasse. E Modest Petrovich Mussorgsky morreu com uma cópia do tratado de Berlioz em cima da cama.
Norman Lebrecht

ELUCIDÁRiO

ALGERNON BLACKWOOD

Bizarro, perturbador, assustador, sublime, assim é o mestre ilusionista da escrita ficcional, Algernon Blackwood. Evocando as forças misteriosas da natureza, toda a escrita de Blackwood percorre a nebulosa fronteira entre a fantasia, o surpreendente, a admiração e o horror. Na obra de Blackwood - incluindo O Wendigo, Luzes Antigas, A Outra Ala ou O Homem à Escuta - destaca-se Os Salgueiros, que H.P. Lovecraft apontava como sendo «a melhor história de terror de toda a literatura».

VISTORiA

A leitura de obras de divulgação científica gerou em mim a convicção de que várias passagens da Bíblia não podiam ser verdadeiras. Desenvolvi assim um fanático livre-pensamento, associado ao sentimento de que o Estado omitia, deliberadamente, aos jovens; foi uma revelação para a minha vida. Extraí dessa experiência uma desconfiança em relação a toda forma de autoridade, um cepticismo a respeito das convicções que prevaleciam na sociedade da época, posição que jamais abandonei, ainda que depois ela tenha perdido a sua acuidade, graças a um melhor discernimento das relações causais.
Albert Einstein
- Autobiografia

MEMÓRiA

1803-08MAR1869 - Louis Hector Berlioz, aliás Hector Berlioz: Compositor francês - «Diz-se que o tempo é um grande maestro… O pior, infelizmente, é que acaba por matar os seus discípulos».  
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1922-08MAR1999 - António Pereira Campos, aliás António Campos: Cineasta português - «Não me interessa que os meus filmes vão para o cartaz. O que desejo é que circulem entre o povo, que conhece ou não os problemas focados, pois poderá passar a debatê-los». IMAG.96-180-217-372

1810-11MAR1879 - José Feliciano de Castilho Barreto e Noronha, aliás Castilho José, aliás José Feliciano de Castilho - Escritor, bibliotecário, tradutor e jornalista português, autor de Grito de Liberdade: Canto Dedicado aos Emigrantes Portuguezes / Por um Portuguez (1830), radicado no Brasil - «…Revelou-se latinista de profundo conhecimento da língua de Cícero, de Horácio, de Virgílio e de Plutarco; foi feliz demais na mestria com que reproduziu completas, vivas, no português, as frias belezas de Ovídio, que, desterrado no Ponto, oferecia ao ótimo e ilustrado tradutor o maravilhoso tesouro das mais enlevadoras e sublimes melancolias e saudades do poeta no seu livro das tristezas, os Tristes» (Joaquim Manuel de Macedo - 1879).

1926-12MAR2009 - Blanca Leonor Varela Gonzáles, aliás Blanca Varela: Poetisa peruana - «…El coral clava su garra en tu sombra, / tu sangre se desliza, inunda praderas…». IMAG.242-574

1911-13MAR1999 - Leon Harrison Gross, aliás Lee Falk: Autor americano de banda desenhada, criador de Mandrake e The Phantom - «A minha única política é enaltecer a democracia e criticar a ditadura… Constatei que milhões de pessoas - em todo o mundo - diariamente gostavam das mesmas coisas que eu apreciava». IMAG.86-218-320-471

14MAR1869-1951 - Algernon Blackwood Henry, aliás Algernon Blackwood: Ficcionista inglês, mestre da literatura fantástica, autor de Os Salgueiros - «Acredito que a nossa consciência é capaz de alterar-se e de expandir-se, e que, com tais mutações e ampliações, estaremos propícios a tornar-nos disponíveis para a realidade de outros e novos universos» (a Peter Penzoldt). IMAG.529

14MAR1879-1955 - Albert Einstein: Físico teórico alemão, fundador da Teoria Geral da Relatividade, distinguido com o Prémio Nobel da Física (1921) - «Se a minha teoria da relatividade estiver correcta, a Alemanha dirá que sou alemão, e a França, que sou cidadão do mundo. Mas, se eu estiver errado, a França sustentará que sou alemão, e a Alemanha garantirá que sou judeu».  
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14MAR1939-2012 - Keiji Nakazawa: Argumentista e ilustrador japonês, criador da série Hadashi no Gen (1973), mangà autobiográfica sobre a deflagração da bomba atómica em Hiroxima, de que foi sobrevivente. IMAG.446

PARLATÓRiO

Tendo inesperadamente desabado sobre mim, Shakespeare fulminou-me… Nele, reconheci a verdadeira grandeza, a verdadeira beleza e a autêntica verdade dramática.
Hector Berlioz

Cada artista, para além das suas motivações e imaginação, recria um mundo pessoal na banda desenhada de que é autor - e isto é verdade para The Peanuts, Beetle Bailey, Popeye, para todas as melhores séries. E tal consegue-se, não imitando os outros - seguindo as nossas próprias ideias. The Phantom e Mandrake são bem reais - muito mais do que a maior parte das pessoas que andam por esse mundo. Temos que acreditar nas personagens a que damos vida.
Lee Falk

Basta-me pensar num filme, e ter um mínimo de dinheiro para o fazer… Entrego-me de corpo e alma quando os temas me sensibilizam, me apaixonam.
António Campos

TRAJECTÓRiA

LEE FALK

Na banda desenhada americana, pelos rumos da aventura, um criador influenciou a história dos heróis ao longo de décadas, reflectindo-se por um culto mutante entre os leitores: Lee Falk, com os essenciais Mandrake the Magician e The Phantom. Em talento e inspiração, Falk era um autor esotérico, irónico, ritualista. Narrador primordial, inspirado em cultos ancestrais, lendários de variegadas civilizações e exotismos. Por outro lado, a partir destes conceitos e destes símbolos fundamentais, Falk provou possuir - também - um engenho fértil e distinto. Bastaria observar as características que contrastam Mandrake e o Fantasma, praticamente num recorte de oposição entre si. Aliás, ambos evoluíram ao longo dos anos, com as respectivas sagas. Em cumplicidade com os leitores próprios, Falk suscitou também dois encontros - alusivos a uma velha amizade entre si - de Mandrake e Fantasma, em momento de excepcional importância na vida de cada um: o casamento - do Homem-Mascarado, Kit Walker com Diana Palmer em 1977; e de Mandrake com a princesa Narda de Cockaigne, em 1997-1998. Lee Falk (1911-1999) iniciou os prodígios de Mandrake em 1934, dois anos antes de explorar as proezas do Duende Caminhante na selva de Bengalla. O modelo físico de Mandrake teria sido o próprio Falk - estilizado pelo grafismo de Phil Davis e ajudantes, até à morte em 1964. Depois, Fred Fredericks manteve o essencial, modernizando as personagens e a dinâmica narrativa ou cénica. A partir de 1936, The Phantom foi ilustrado por Ray Moore (1936-1947), Wilson McCoy (1947-1961), e desde essa altura por Sy Barry, com inúmeros colaboradores anónimos. Fiéis a um justiceiro com mais de quatrocentos anos.

BREVIÁRiO

Fundação Calouste Gulbenkian edita Ensaios e Artigos (1951-2007) de Agustina Bessa-Luís.
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Em Biografias do Teatro Português, INCM / Imprensa Nacional - Casa da Moeda edita Companhia [Amélia] Rey Colaço [1898-1990] - Robles Monteiro (1888-1958).
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