segunda-feira, maio 01, 2017

IMAGINÁRiO #660

José de Matos-Cruz | 24 Maio 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO

CLÁSSICOS
Um dos mais fascinantes e misteriosos cineastas de todos os tempos, que sublimou o talento de autor europeu com o espectáculo ritualizado em Hollywood, Josef Von Sternberg (1894-1969) foi, no início dos anos ’50, incumbido por Howard Hughes de concretizar duas fitas, a cargo da RKO: Jet Pilot (1950) - apenas lançado entre nós em 1957, como Estradas do Inferno; e Macao (1952) - que nunca estreou comercialmente em Portugal, logo por óbvias razões geopolíticas. Longe iam já as cintilações de um vínculo mítico com Marlene Dietrich, até The Devil Is a Woman (1935); e mesmo a actividade primordial de Sternberg há muito esmorecera, após Aconteceu Em Xangai (1941). Aliás, o realizador austríaco estaria cada vez mais farto com as actuais condições de trabalho e dificuldades de produção - assumida em Macao por Alex Gottlieb, com argumento de Bernard C. Schoenfeld & Stanley Rubin, sobre enredo de Bob Williams. Consagrado como um fenómeno de génio e subversão, desde meados da década de ’20, em plena magia das imagens silenciosas, Sternberg abandonou a carreira pouco depois, sendo o seu título culminante The Saga of Anatahan (1953), a convite da indústria nipónica. A acidentada rodagem de Macao principiou em Setembro de 1950, antes de estar concluído Jet Pilot, mas só viria a público longos meses após a conclusão. IMAG.254-281-375-466-468

CALENDÁRiO

11JAN-09FEV2017 - Em Lisboa, Appleton Square apresenta Cielo y Luz - exposição de fotografia e vídeo de Augusto Alves da Silva. IMAG.648

1941-23JAN2017 - Gordon Fitzgerald Kaye, aliás Gorden Kaye: Actor inglês de rádio, cinema e televisão, intérprete de René Artois na série Allo’ Allo! / Alô, Alô (1982) - «Não haverá outro René» (Vicki Michelle).

26JAN2017 - Terratreme produziu, e estreia Ama-San (2016), documentário de Cláudia Varejão.

26JAN2017 - Leopardo Filmes produziu, e estreia O Divã de Estaline / Le Divan de Staline (2016) de Fanny Ardant; com Gérard Depardieu e Emmanuelle Seigner. IMAG.505

02FEV-05JUN2017 - Em Lisboa, Museu Calouste Gulbenkian expõe Almada Negreiros [1893-1970], Uma Maneira de Ser Moderno, sendo curadoras Mariana Pinto dos Santos e Ana Vasconcelos. IMAG.84-135-154-173-224-278-292-305-371-413-498-547-561-579-612-630-633

VISTORiA

Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que nada aprendem, nada aperfeiçoam! Bárbaros agarram esse cão que tão prodigiosamente vence o homem em amizade, pregam-no em cima de uma mesa e dissecam-no vivo para te mostrarem as suas veias mesentéricas. Descobres nele todos os mesmos órgãos de sentimentos de que te gabas. Responde-me, maquinista, teria a natureza entrosado nesse animal todos os órgãos de sentimentos sem objectivo algum? Terá nervos para ser insensível? Não inquires a natureza sobre tão impertinente contradição?
Voltaire
- Dicionário Filosófico (1764)

Os homens transitam do Norte para o Sul, de Leste para Oeste, de país para país, em busca de pão e de um futuro melhor. Nascem por uma fatalidade biológica e quando, aberta a consciência, olham para a vida, verificam que só a alguns deles parece ser permitido o direito de viver. Uns resignam-se logo à situação de elementos supérfluos, de indivíduos que excederam o número, de seres que o são apenas no sofrimento, no vegetar fisiológico de uma existência condicionada por milhentas restrições. Curvam-se aos conceitos estabelecidos de há muito, aceitam por bom o que já estava enraizado quando eles chegaram e deixam-se ir assim, humildes, apagados, submissos, do berço ao túmulo – a ver, pacientemente, a vida que levam outros homens mais felizes.
Ferreira de Castro
- Emigrantes (1928) – Pórtico
MEMÓRiA

24MAI1898-1974 - José Maria Ferreira de Castro: Escritor português, cidadão do Mundo, autor de A Selva (1930) - «Eu devia este livro a essa majestade verde, soberba e enigmática, que é a selva amazónica, pelo muito que nela sofri durante os primeiros anos da minha adolescência e pela coragem que me deu para o resto da vida.» (Pórtico - 1955). 
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1922-25MAI2008 - David Gahr: Fotógrafo americano - «É impossível pensar na música popular americana dos últimos cinquenta anos, sem nos vir à cabeça uma fotografia tirada pelo Dave Gahr. As suas fotografias possuem qualidades líricas e íntimas, fossem tiradas com pose ou fossem espontâneas. Ele era um pioneiro, um divertido irascível, um sujeito formidável» (Henry Sapoznik). IMAG.201-387

1934-26MAI2008 - Sydney Irwin Pollack, aliás Sydney Pollack: Cineasta americano, actor e produtor - «Eu não nasci a pensar nos filmes como arte, mas apenas como filmes - algo que fosse para ser visto numa tarde de sábado». IMAG.200-331-357-364-434-471-473

28MAI1738-1814 - Joseph-Ignace Guillotin: Médico francês, ligado à execução pela guilhotina (1789), como meio de eliminar os tratamentos desiguais e os castigos bárbaros - «O criminoso será decapitado por efeito desse simples mecanismo, capaz de fazer saltar a cabeça num piscar de olhos». IMAG.291-333-465-560

28MAI1908-1964 - Ian Lancaster Fleming, aliás Ian Fleming: Escritor e jornalista inglês, agente da espionagem naval, criador de James Bond 007 (1952) - «Deveríamos viver duas vezes. Uma quando nascemos, e outra ao olharmos a morte de frente». IMAG.46-63-120-146-180-219-280-432

1694-30MAI1778 - François-Marie Arouet, aliás Voltaire: Escritor francês, filósofo iluminista, autor de Tratado Sobre a Tolerância (1762) - «Não é aos homens que me dirijo, é a ti, Deus de todos os seres, de todos os homens e de todos os tempos… Que as pequenas diferenças entre as vestimentas que cobrem os nossos fracos corpos, entre os nossos costumes ridículos, entre todas as nossas leis imperfeitas, entre todas as nossas opiniões insensatas, que todas essas pequenas nuances que distinguem os átomos chamados homens não sejam motivo de perseguição.». IMAG.28-180-270-295-388-491-593

31MAI1928-2013 - Édouard Camille Molinaro, aliás Édouard Molinaro: Cineasta francês, realizador de O Amor Faz-me Fome / La Mandarine (1972) - «Tinha gosto e competência para converter em campeões de bilheteira os sucessos do teatro de boulevard» (Les Inrockuptibles). IMAG.491

PARLATÓRiO

Guillotin
O senhor Guillotin, que conheci na sua velhice, não se conformava com aquilo a que chamava uma mancha inapagável na sua vida. A sua figura venerável enchia-se de tristeza profunda; e os seus cabelos, completamente brancos, testemunhavam tudo o que tinha sofrido. Ele queria aliviar a Humanidade, e contribuiu, sem ter previsto isso, para a destruição de um grande número de indivíduos. Se a morte destes tivesse sido menos expedita, talvez o povo se houvesse cansado mais cedo das execuções, às quais acorria como a um espectáculo.
Imperatriz Joséphine


A maioria dos grandes realizadores de cinema que conheço, não foram actores - por isso, não posso considerar que tal seja um factor essencial. No entanto, para mim tornou-se uma enorme ajuda.
Sydney Pollack

BREVIÁRiO

Tinta da China edita A Conquista das Almas de Aniceto Simões e Carlos Matos Gomes / Carlos Vale Ferraz. IMAG.3-197-616

Assírio & Alvim edita Poemas Escolhidos de José de Almada Negreiros (1893-1970). 
 
GALERiA

Almada Negreiros – Uma Maneira de Ser Moderno
Autor profuso e diversificado, Almada (1893-1970) pôs em prática uma conceção heteróclita do artista moderno, desdobrado por múltiplos ofícios. Toda a arte, nas suas várias formas, seria, para Almada, uma parte do espetáculo que o artista teria por missão apresentar perante o público, fazendo de cada obra, gesto ou atitude um meio de dar a ver uma ideia total de modernidade.
A exposição apresenta um conjunto de obras que reflete a condição complexa, experimental, contraditória e híbrida da modernidade. A pintura e o desenho mostram-se em estreita ligação com os trabalhos que fez em colaboração com arquitetos, escritores, editores, músicos, cenógrafos ou encenadores. Esta escolha dá também visibilidade à presença marcante do cinema e à persistência da narrativa gráfica ao longo da sua obra. Juntam-se ainda obras e estudos inéditos que darão a conhecer diferentes facetas do processo de trabalho artístico de José de Almada Negreiros.

EXTRAORDINÁRiO

OS SOBRENATURAIS – Folhetim Aperiódico

MAL TORNA AO CRIADOR QUEM, SUJEITO, SE REFAZ - 8

Antes, Ofélia aderiu à diáspora lésbica. De sua imensa dor, extrairia os prazeres da absolvição. Gritando para as parceiras, enciumadas: «Eu nunca te menti sobre a minha condição!» Pois não. Só que estava diferente, devassada que foi um dia em sua ambiguidade carnal.
Continua
 

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