terça-feira, setembro 13, 2016

IMAGINÁRiO #627

José de Matos-Cruz | 16 Setembro 2017 | Edição Kafre | Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

INOCÊNCIA
Genuíno testemunho, em que convergiriam as expectativas do Novo Cinema português, Os Verdes Anos (1963) revelou gente jovem, aliás publicitada «sem responsabilidades na produção nacional, e que tem uma visão universal, que lhe advém do longo contacto com os estúdios parisienses». O realizador Paulo Rocha (1935-2012) diplomara-se pelo IDHEC, em França, tal como o produtor António da Cunha Telles, que fez um investimento de 900 contos. Nuno Bragança adaptou o argumento de Rocha, elaborando os diálogos. A psicologia das personagens insinua-se no elo realista dos seus conflitos e tensões, reflectindo a crise social através da singularidade poética. Isabel Ruth e Rui Gomes são os nóveis protagonistas duma época virtual, em suas referências testemunhadoras. Inquietação, sensibilidade, pairam neste retrato de geração - entre a alienação e a rebeldia. É a idade duma inocência perdida, pervertida nos paradoxos do tempo e do envolvimento. Aos dilemas convencionais, como o desenraizamento ou a inadaptação, corresponde uma obsessão funesta, precipitando a catástrofe. Amor, ciúme, virilidade, frustração. Uma síntese radical - ética e estética. A música de Carlos Paredes constitui um sugestivo elemento dramático. As filmagens decorreram em interiores e em locais autênticos. A fotografia de Luc Mirot desvenda uma outra Lisboa - segundo Rocha, fixando «bocados da Avenida dos Estados Unidos, as colinas cobertas de oliveiras que dominam a zona nova e o rio, os descampados à volta da cidade universitária»…
De resto, tudo está patente: gente humilde, destino fatal. IMAG.4-31-87-180-445-521-543-567

CALENDÁRiO

¢14MAI-02JUL2016 - Em Lisboa, Galeria Salgadeiras apresenta De Um Lugar Onde Não Há Sapos - exposição de pintura de Guilherme Parente.

¸16JUN2016 - Cine-Clube de Avanca produziu, e estreia Grandes Esperanças (2007) de Miguel Marques; em complemento, O Acidente (2008) de André Marques e Carlos Silva.

¸16JUN2016 - NOS Audiovisuais estreia E Agora Invadimos o Quê? / Where To Invade Next (2015) de Michael Moore; rodagem parcial em Portugal.

16JUN-18SET2016 - No Porto, Museu de Arte Contemporânea de Serralves expõe Matéria-Prima: Um Olhar Sobre o Arquivo de Álvaro Siza, sendo curador André Tavares. IMAG.41-56-298-424-432-447-495-510-579-611-620

¢17JUN2016-17JUN2017 - Em Lisboa, Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado expõe Vanguardas e Neovanguardas Na Arte Portuguesa | Séculos XX e XXI, sendo curador Rui Afonso Santos.

21JUN-18SET2016 - Em Lisboa, Centro Cultural de Belém/CCB apresenta, na Garagem Sul, Eduardo Souto de Moura: Continuidade - exposição de arquitectura, sendo curadores António Sérgio Koch e André de França Campos. IMAG.249-349-529-611

¢24JUN-16AGO2016 - Em Lisboa, Instituto Cultural Romeno apresenta Tatuagens No Cérebro | Um Mapa das Obsessões - exposição de artes plásticas por Calin Dan, Teodor Graur, Iosif Király, Petru Lucaci, Carmen e Gheorghe Rasovszky (anos ‘80), e Aurora Király (anos ‘90).

25JUN-30OUT2016 - Em Lisboa, Padrão dos Descobrimentos apresenta Fora do Padrão: Lembranças da Exposição de 1940 - sobre a Exposição do Mundo Português, sendo comissária Maria Cardeira da Silva. IMAG.76-154-205-227-244-251-436-452-545

¢01JUL-25SET2016 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe terEstado - Auto-retratos e Paisagens de Miguel Navas e João Jacinto.

¢21JUL-11SET2016 - Em Lisboa, Museu do Oriente apresenta Do Ocidente Para o Oriente - exposição de pintura de Natália Gromicho.

06AGO-28AGO2016 - Em Lisboa, Museu do Oriente expõe Parallel Nippon - Arquitectura Japonesa Contemporânea 1996-2006.

PARLATÓRiO

®O verdadeiro silêncio não existe… Quando estou no palco, fala a minha alma – e esse respeito pelo silêncio é susceptível de tocar as pessoas, de um modo mais profundo do que qualquer palavra.
O silêncio é infinito como o movimento, não tem limites. Para mim, os limites resultam da palavra… Eu sou uma testemunha da minha observação sobre a vida.
Marcel Marceau

MEMÓRiA

16SET1927-2011 - Peter Michael Falk, aliás Peter Falk: Actor americano de cinema e televisão, protagonista do Tenente Columbo (1971) - «Trabalhei em vários filmes com John Cassavetes, mas nunca percebi nada do que me dizia… Creio que ele fazia de propósito». IMAG.364

1923-16SET1977 - Maria Cecilia Sofia Anna Kalogeropoulou, aliás Maria Callas: Cantora lírica americana, de ascendência grega - «Quem me quiser compreender realmente, irá encontrar-me inteira no meu trabalho… Eu gostaria de ser Maria, mas La Callas exige que eu me comporte com a sua dignidade». IMAG.31-147-188-207-406-495

18SET1887-1966 - Hans Peter Wilhelm Arp, aliás Hans Arp / Jean Arp: Poeta, escultor e pintor germânico, naturalizado francês (1926) e ligado aos movimentos surrealista e dadaísta - «Em breve, o silêncio será uma lenda do passado. O homem inventa, dia após dia, máquinas e dispositivos que aumentam o ruído e distraem a humanidade quanto à essência da vida, da contemplação, da meditação». IMAG.565-567

1865-20SET1957 - Johan Julius Christian Sibelius, aliás Jean Sibelius: Compositor finlandês, autor de Tapiola - «Ele estava a recuperar do seu acostumado passeio matinal. Maravilhado, contou à esposa Aino que tinha visto um bando de curleus a aproximar-se. “Aí vêm eles, os pássaros da minha juventude!”, exclamou então. Repentinamente, um dos pássaros saiu da formação e, esvoaçando, fez um círculo em torno de Aino. Depois, voltou ao grupo e continuaram a voar, seguindo o seu destino. Dois dias depois, Sibelius morria de uma hemorragia cerebral» (Erik Tawaststjerna). IMAG. 213-402-404-542-551-602-621

¾21SET1947-2014 - Emídio Arnaldo Freitas Rangel, aliás Emídio Rangel: Jornalista português, com actividade e funções directivas na rádio e na televisão, cofundador da TSF Rádio Jornal e da SIC Notícias - «No pós-25 de Abril, é o nome maior do jornalismo português… Mudou a forma de fazer rádio e televisão em Portugal… O jornalismo no geral não seria o mesmo que é hoje» (Paulo Baldaia). IMAG.529

¨ 1883-22SET1947 - Pierre Lecomte du Nouy: Biofísico e filósofo francês - «O drama mais frequente ao homem comum é o de ele não saber o que quer. Quando um homem consegue saber exactamente o que pretende, a sua vontade de execução torna-se irresistível. São a hesitação, o cálculo mental do interesse, a negociação em si mesmo, a comparação raciocinada do pró e do contra, que enfraquecem a vontade, até ao ponto de a aniquilarem». IMAG.448

1923-22SET2007 - Marcel Mangel, aliás Marcel Marceau: Actor e mímico francês - «Expressar-me com o corpo é, pessoalmente, mais que uma técnica ou uma corrente interpretativa, uma autêntica necessidade… Se há algo que não se representa com a mímica, é a mentira, pois, para mentir, é necessário usar a palavra». IMAG.165-411

VISTORiA

¨ Todo o ser capaz de apenas considerar um acto, ao mesmo tempo, é forte: o homem primário, sem instrução, sem imaginação, é forte.
No outro extremo, o homem culto, imaginativo, sensível, é, muitas vezes, fraco, por ser paralisado pela representação de todas as consequências, próximas e remotas, de cada um dos seus actos.
O seu bom senso recomenda-lhe, inevitavelmente, as soluções descoloridas, os compromissos, as abdicações. Importa que a necessidade de um acto lance para a sombra todas as outras possibilidades, para que esse acto se imponha.
Enquanto tergiversa consigo, o homem é dominado por vago mas lancinante desejo de escolher uma solução neutra, fácil, que não exija esforço e nada altere.
Acredita decidir, quando apenas obedece.
Pierre Lecomte du Nouy
- A Dignidade Humana (excertos)
PARLATÓRiO

Durante anos, esforcei-me para criar essa qualidade doentia na voz de Violetta; afinal, ela é uma mulher doente. Na verdade, tudo se resume a uma questão de respiração, e é preciso ter uma garganta muito limpa para sustentar esse cansaço na maneira de falar ou de cantar. E o que foi que eles disseram? «Callas está cansada, a voz está cansada!». Mas essa era, justamente, a impressão que eu queria criar. No estado em que se encontrava, como poderia Violetta cantar em tons grandiosos, altos, sonoros?
Maria Callas
BREVIÁRiO

Europress edita Santo António Em Banda Desenhada de José Garcês. IMAG.24-70-78-117-129-149-226-251-256-258-265-321-361-374-416-430-598-Extra

¨Dom Quixote edita Os Navios da Noite de João de Melo. IMAG.94-157-191-297-298

Tinta da China edita Os Vampiros de Filipe Melo (argumento) e Juan Cavia (ilustração). IMAG.308-335-337-523

¨Assírio & Alvim edita País Possível de Ruy Belo (1933-1978); prefácio de Nuno Júdice. IMAG.190-332-408-490

¯Harmonia Mundi edita em CD, sob chancela Vision Fugitive, Juneteenth de Stanley Cowell.  

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