quarta-feira, novembro 11, 2015

IMAGINÁRiO #582



José de Matos-Cruz | 08 Outubro 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

ALTERNATIVAS
Da crise que, ciclicamente, paira sobre o nosso panorama em quadradinhos, afectando sobretudo a relação entre profissionais e público leitor, é possível paralelamente extrair significativas ilações e experiências. Umas e outras de importância decisiva para os nóveis artistas, reivindicando um justo direito de divulgação mas, ao mesmo tempo, cientes de que a respectiva obra reflecte problemáticas próprias, e tem em vista destinatários específicos. Portanto, exigindo equivalentes meios de difusão - através de empresas que assumam o risco, registem a diversidade e proponham alternativas. Assim resultaria, sob chancela das Edições Polvo, pela vertente de Banda Desenhada - ao estilizar um testemunho criativo sempre propício às cumplicidades radicais, exploratórias, virtuais. Por exemplo, O Diário de K. (2001) por Filipe Abranches, adaptando A Morte do Palhaço por Raul Brandão. «Sonhar é tudo o que resta. Sonhar. Um uivo na noite… e folhas dispersas de um diário.» Já em 2011, O Diário de K. foi incluído no livro 1001 Comics You Must Read Before You Die (1001 Bandas Desenhadas Para Ler Antes de Morrer), do jornalista e escritor britânico Paul Gravett, assinalando a única presença portuguesa. IMAG.17-29-129-244-384-416-430-502


CALENDÁRiO

¸1939-30AGO2015 - Wesley Earl Craven, aliás Wes Craven: Cineasta americano, realizador, argumentista, produtor e actor - «Para mim, o cinema é uma das principais formas de arte. Um meio incrivelmente poderoso, para contar histórias que façam as pessoas rir ou gritar, e inspirá-las a tocar as estrelas». IMAG.341

¸03SET2015 - Cinemundo estreia Vontade de Vencer de André Banza; com Anselmo Ralph.

µ04SET-11OUT2015 - Em Lisboa, Fundação EDP apresenta no Museu da Electricidade, em parceria com Fundação Cupertino de Miranda, Mário Cesariny [de Vasconcellos - 1923-2006] - Em Casas Como Aquela; exposição de fotografia de Duarte Belo, sendo comissário António Gonçalves. IMAG.17-19-20-29-66-123-179-430-442-475-486-505-537

¢08OUT2015-20FEV2016 - Em Lisboa, Atelier-Museu Júlio Pomar apresenta Júlio Pomar e Rui Chafes: Desenhar - exposição de escultura e desenho, sendo curadora Sara Antónia Matos. IMAG.19-65-299-312-364-427-449-461-495-500-505-534-552-553-562-568

¢17OUT2015-10JAN2016 - No Porto, Museu de Arte Contemporânea de Serralves expõe A Minha Obra É o Meu Corpo / O Meu Corpo É a Minha Obra - retrospectiva de Helena Almeida, sendo curadores João Ribas e Marta Moreira de Almeida. IMAG.461-475-486-554


VISTORiA

Quem Pode Impedir a Primavera
¨Quem pode impedir a Primavera
Se as árvores se vão cobrir de flores
E o homem se sentiu sorrir à Vida?

Quem pode impedir a surda guerra
Que vai nos campos deslocando as pedras
– Mudas comparsas no ritmo das estações –
E da terra inerte ergueu milhares de lanças
Que a tremer avançam, cintilantes, para o limite
Em que a luz aquosa se derrama
Como um mar infinito onde o arado
Abre caminho misterioso à seiva inquieta!

Quem pode impedir a Primavera
Se estamos em Maio e uma ternura
Nos faz abrir a porta aos viandantes
E o amor se abriga em cada um dos nossos gestos.

Quem?…
Se os sonhos maus do Inverno dão lugar à Primavera!
 Ruy Cinatti


VISTORiA

O Mestre
¨Quando as trevas começaram a cair sobre a Terra, José de Arimateia acendeu uma tocha de pinheiro e desceu da colina para o vale. Tinha que fazer em casa. E, ajoelhando-se sobre as pedras do Vale da Desolação, viu um jovem que estava nu e chorava. Os seus cabelos eram da cor do mel, e o corpo tão branco como uma flor. Mas ferira o corpo nos espinhos e, sobre os cabelos, pusera cinza à guisa de coroa.
E José, que possuía grandes virtudes, disse ao jovem que se encontrava nu e chorava:
– Não me admira que o teu sentimento seja tão grande, porque, realmente, Ele foi um homem justo.
E o jovem respondeu:
– Não é por Ele que choro, mas por mim mesmo. Eu também alterei a água em vinho, curei o leproso e restituí a vista ao cego. Andei sobre as águas e, das profundezas dos sepulcros, expulsei os demónios. Alimentei os famintos no deserto, onde não havia comida; ergui os mortos dos leitos exíguos e à minha ordem, diante de imensa multidão, uma figueira seca novamente frutificou. Tudo o que esse homem logrou, também eu realizei e, todavia, não me crucificaram.
Oscar Wilde
- Poemas Em Prosa e Salomé

¨…Há na nossa sociedade outro princípio de exclusão: não já um interdito, mas uma partilha e uma rejeição. Penso na oposição da razão e da loucura (folie). Desde os arcanos da Idade Média que o louco é aquele cujo discurso não pode transmitir-se como o dos outros: ou a sua palavra nada vale e não existe, não possuindo nem verdade nem importância, não podendo testemunhar em matéria de justiça, não podendo autentificar um acto ou um contrato, não podendo sequer, no sacrifício da missa, permitir a transubstanciação e fazer do pão um corpo; ou, como reverso de tudo isto, e por oposição a outra palavra qualquer, são-lhe atribuídos estranhos poderes: o de dizer uma verdade oculta, o de anunciar o futuro, o de ver, com toda a credulidade, aquilo que a sagacidade dos outros não consegue atingir. É curioso reparar que na Europa, durante séculos, a palavra do louco, ou não era ouvida, ou então, se o era, era ouvida como uma palavra verdadeira. Ou caía no nada – rejeitada de imediato logo que proferida; ou adivinhava-se nela uma razão crédula ou subtil, uma razão mais razoável do que a razão das pessoas razoáveis. De qualquer modo, excluída ou secretamente investida pela razão, em sentido estrito, ela não existia. Era por intermédio das suas palavras que se reconhecia a loucura do louco; essas palavras eram o lugar onde se exercia a partilha; mas nunca eram retidas ou escutadas. A nunca um médico ocorrera, antes do final do século XVIII, saber o que era dito (como era dito, por que é que era dito isso que era dito) nessa palavra que, não obstante, marcava a diferença. Todo esse imenso discurso do louco recaía no ruído; e se se lhe dava a palavra era de modo simbólico, no teatro, onde se apresentava desarmado e reconciliado, já que aí representava a verdade mascarada.
Michel Foucault
- A Ordem do Discurso (1971 - excerto)
 - Tradução de Edmundo Cordeiro, António Bento
BREVIÁRiO

¨Porto Editora lança A Erva das Noites de Patrick Modiano; tradução de Carlos Sousa de Almeida. IMAG.535-552-553-555-564-571-578

¨Dom Quixote edita A Filha do Papa de Dario Fo; tradução de Maria do Carmo Abreu. IMAG.72-216

¯Universal edita em CD, sob chancela Decca, St. Petersburg por Cecilia Bartoli, com I Barocchisti sob a direcção de Diego Fasolis. IMAG.69-288-338-445-498-520

¨Relógio D’Água edita Diários de Viagem de Franz Kafka (1883-1924); tradução e introdução de Isabel Castro Silva. IMAG.31-84-131-165-426-469-474-493

¨Quetzal edita A Casa da Aranha de Paul Bowles (1910-1999); tradução de Jorge Pereirinha Pires. IMAG.204-247-251-304-469

MEMÓRiA

¯1824-11OUT1896 - Anton Bruckner: Compositor austríaco - «A sua Oitava Sinfonia é a criação de um gigante, ultrapassando em dimensão espiritual e magnitude de concepção todas as outras sinfonias do Mestre» (Hugo Wolf). IMAG.104-233-323-404-437-440-481-563

¢1848-11OUT1926 - Albert Robida: Ilustrador e litografo francês, autor de livros como O Século Vinte (1883) e A Vida Eléctrica (1890) - imaginou como seria a vida quotidiana, concebendo invenções sobre o futuro.


®11OUT1936-2010 - Maria Dulce: Actriz portuguesa de cinema, teatro e televisão - «Tenho orgulho de ser altamente profissional, de nunca me atrasar e de ter os textos todos trabalhados. Sinto que ainda podia fazer muito na representação, e é com muita mágoa que vou encarando este momento como o fim da minha carreira. Tenho pena que seja desta forma tão inglória, porque ainda estou muito funcional e só queria ter trabalho» (2009). IMAG.117-322

¨ 1915-12OUT1986 - Ruy Cinatti: Poeta e antropólogo português - «Teus olhos, Honorine, cruzaram oceanos, / longamente tristes, sequiosos, / como flor aberta nas sombras em busca do Sol. / Vieram com o vento e com as ondas, / através dos campos e bosques da beira-mar. / Vieram até mim, estudante triste, / dum país do Sul.». IMAG.95-506

¨ 15OUT1926-1984 - Michel Foucault: Historiador francês, filósofo e ensaísta - «Acredito demasiado na verdade para não supor que existam diferentes verdades e diversas maneiras de dizê-la». IMAG.102-472

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