quinta-feira, junho 05, 2014

IMAGINÁRiO #508

José de Matos-Cruz | 24 Março 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO
PROJECÇÕES
De memórias suadas, carne mole, medos medíocres, vícios e nicotina, surge Kilas - aturdido pela pequenês do físico, tacão alto a deitar figura, de arrogância por medida… Entre tipos marginais e mitos precários de uma saga/farsa passional, eis a criatura mais popular e característica no cinema português em liberdade. Estilizada por José Fonseca e Costa em Kilas, o Mau da Fita (1980) - um dos maiores sucessos no pós-25 de Abril, alcançando culto graças à composição por Mário Viegas. Fonseca e Costa escreveu o argumento com Sérgio Godinho - autor da música - e Tabajara Ruas, com produção entre Filmform e Penta Filmes (Brasil).
A fotografia coube a António H. Escudeiro e Mário Barroso, por Lisboa - Intendente, Alcântara, Bairro Alto, Alfama e Pampulha. No elenco, destaca-se o regresso de Milú, ao lado de Lia Gama e Lima Duarte. Galardoado com o Makhila de Honra no Festival de Biarritz em 1980, Kilas, o Mau da Fita foi distinguido com o Grande Prémio do IPC/Instituto Português de Cinema em 1981.


MEMÓRiA
¨07MAR1785-1873 - Alessandro Francesco Tommaso Manzoni, aliás Alessandro Manzoni: Poeta e ficcionista italiano - «Os vizinhos, a quem o tumor fez descobrir sabe-se lá quantas sujidades que tinham provavelmente diante dos olhos, quem sabe há quanto tempo, sem se preocuparem com isso, puseram-se à pressa e em fúria a chamuscá-la com palha a arder. A Giacomo Mora, barbeiro, que estava à esquina, pareceu, tal como aos outros, que tinham sido untadas as paredes da sua casa. E não sabia, o infeliz, que outro perigo o ameaçava, e por parte daquele mesmo comissário, ele próprio também infelicíssimo.» (História da Coluna Infame). >IMAG.26

¨1828-24MAR1905 - Jules Gabriel Verne, aliás Jules Verne: Ficcionista e poeta francês - «Um dia visitaremos a Lua e os planetas com a mesma facilidade com que hoje se vai de Liverpool a Nova York.» (Da Terra à Lua - 1865). >IMAG.28-85-245-257

¨25MAR1925-1964 - Flannery O’Connor: Ficcionista americana - «As pessoas não percebem o que custa a religião. Julgam que a fé é um cobertor que nos aconchega, quando na verdade é uma cruz que temos de transportar». >IMAG.55-179-229-317-477

¨29MAR1815-1872 - Antonio Aparisi y Guijarro, Marquês de Santa Eugénia: Jurista e político espanhol - «A educação é um seguro para a vida e um passaporte para a eternidade». >IMAG.393

¨29MAR1895-1998 - Ernst Jünger: Escritor e filósofo alemão - «Desterrado é aquele que possui uma relação originária com a liberdade, que se exterioriza, de um ponto de vista da época, na resistência que opõe ao automatismo, e de que não tenciona extrair a sua consequência ética, o fatalismo.» (O Passo da Floresta).

¨1816-31MAR1855 - Charlotte Brontё: Ficcionista e poeta inglesa - «Evito olhar para trás ou para frente, antes procuro olhar para cima». >IMAG.13-213-263
   
CALENDÁRiO
¯1926-04ABR2014 - Eugénia Lima: Acordeonista portuguesa, fundadora da Orquestra Típica Albicastrense (1956), popular com Picadinho da Beira, Dama da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (1980) - «As músicas que fiz, foram feitas por amor à arte, e reflectem o meu estado de espírito na altura» (2011).

®1920-06ABR2014 - Joseph Yule Jr, aliás Mickey McBan, aliás Mickey Rooney: Actor americano de cinema, teatro e televisão, distinguido com um Oscar especial em 1939, «por trazer para a tela o espírito e a personificação da juventude» - «Não lamento nada do que fiz. Só gostaria de ter feito ainda mais».

¸17ABR2014 - Sony Pictures Portugal estreia O Fantástico Homem-Aranha 2 - O Poder de Electro / The Amazing Spider-Man II – The Rise of Electro, de Marc Webb; sobre o clássico em quadradinhos (concebido por Stan Lee em 1962, no universo dos Marvel Comics), com Andrew Garfield e Emma Stone. >IMAG.3-18-23-28-39-47-49-110-114-148-149-155-217-221-416

VISTORiA
¨Que espectáculo notável! Subíamos por rochas que se desmoronavam repentinamente em grandes massas, com um ruído surdo de avalancha. De espaço a espaço surgiam clareiras, que pareciam abertas por mãos humanas, dando a impressão de que iria ver-se de repente um habitante daquelas paragens submarinas.
Pouco minutos depois, chegávamos a um ponto alto de onde se avistava toda aquela massa rochosa, num plano de dez metros. A montanha elevava-se apenas de setecentos a oitocentos pés acima da planície; em compensação, a outra vertente descia quase o dobro.
Essa montanha era um vulcão. A cerca de cinquenta pés do topo, entre um dilúvio de pedras e lava, uma grande cratera jorrava torrentes de lava, que se espalhavam em cascatas de fogo, no seio da massa líquida. Nessa posição, o vulcão, como se fosse uma tocha gigantesca, iluminava a parte inferior da planície, até onde alcançava a vista.
Disse que o vulcão submarino lançava lavas, e não chamas. Para haver combustão é preciso o oxigénio do ar, e a chama não poderia formar-se sob as águas; mas as camadas de lava, que têm em si mesmas o elemento de sua combustão, podem adquirir coloração vermelho-esbranquiçada, podem lutar contra o elemento líquido e evaporar-se com o contacto dele. Correntes rápidas arrastavam todos aqueles gases em difusão e as torrentes de lava deslizavam até ao sopé da montanha, como se fossem resíduos do Vesúvio sobre uma outra Torre de Greco.
Perante mim, surgia uma cidade destruída, em ruínas, com seus tectos desabados, seus templos destruídos, seus arcos deslocados e suas colunas derrubadas ao solo.
Onde estava eu? Queria saber a resposta a todo custo.
O capitão Nemo aproximou-se e fez-me parar com um gesto. A seguir, apanhando um pedaço de pedra calcária, escreve numa rocha de basalto uma única palavra: «Atlântida».
Aquelas ruínas que eu contemplava como testemunhos inegáveis de uma catástrofe eram da Atlântida, região submersa que existiu separada da Europa, onde viviam os poderosos atlantes, contra os quais foram destinadas as primeiras guerras da antiga Grécia!
Jules Verne
(1870 - excerto)

¨Que significado atribuir ao facto de um milionário se expor aos maiores transtornos por causa de alguns centavos? Tinha de ser fatalmente a recordação dos tempos em que, muito antes de existirem Estados, a propriedade era essencialmente uma presa, sobretudo uma presa de caça. Agora, porém, era o Estado por excelência, porque dotado de poder ilimitado. Triunfar sobre ele, ainda que de forma insignificante, representava um ganho difícil de avaliar, mas inestimável. Partindo desta base, era possível desenvolver uma teoria do crime mais convincente do que qualquer outra de carácter social ou económica.
Ernst Jünger
(excerto - Tradução de Ana Maria Carvalho)


ANTIQUÁRiO
¨1500?-1545? - Bernardim Ribeiro: «Vestido branco trazia, / um pouco afrontada andava, / fermosa bem parecia / aos olhos de quem na olhava.» (Écloga II - excerto). >IMAG.61-337

VISTORiA
Cantiga da Menina e Moça

¨Pensando-vos estou, filha;
vossa mãe me está lembrando;
enchem-se-me os olhos d'água,
nela vos estou lavando.
Nascestes, filha, entre mágoa,
para bem inda vos seja,
que no vosso nascimento
vos houve a fortuna inveja. 
Morto era o contentamento,
nenhuma alegria ouvistes;
vossa mãe era finida,
nós outros éramos tristes. 
Nada em dor, em dor crescida,
não sei onde isto há de ir ter;
vejo-vos, filha, formosa,
com olhos verdes crescer. 
Não era esta graça vossa
para nascer em desterro;
mal haja a desaventura
que pôs mais nisto que o erro. 
Tinha aqui sua sepultura
vossa mãe, e a mágoa a nós;
não éreis vós, filha, não,
para morrerem por vós. 
Não houve em fados razão,
nem se consentem rogar;
de vosso pai hei mor dó,
que de si se há de queixar. 
Eu vos ouvi a vós só,
primeiro que outrem ninguém;
não fôreis vós se eu não fora;
não sei se fiz mal, se bem. 
Mas não pode ser, senhora,
para mal nenhum nascentes,
com este riso gracioso
que tendes sobr’olhos verdes. 
Conforto mas duvidoso,
me é este que tomo assim;
Deus vos dê melhor ventura
da que tivestes até aqui. 
Que a dita e a formosura
dizem patranhas antigas,
que pelejaram um dia,
sendo dantes muito amigas. 
Muitos hão que é fantasia;
eu, que vi tempos e anos,
nenhuma coisa duvido
como ela é azo de danos. 
Mas nenhum mal não é crido,
o bem só é esperado,
e na crença e na esperança,
em ambas há uma mudança,
em ambas há um cuidado.
     
BREVÁRiO
¸Satyricon edita em DVD, Kilas, o Mau da Fita (1980) de José Fonseca e Costa; com Mário Viegas e Lia Gama. >IMAG.63-77-117-126-158-192-223-334

¨Edições Asa lança Relatório do Interior de Paul Auster; tradução de Luís Santos. >IMAG.119-124-205-296

¨Dom Quixote re-edita A Felicidade Em Albert Camus (1913-1960) de Marcello Duarte Mathias. >IMAG.258-441

¸Divisa HV edita em DVD, Georges Méliès [1861-1938]: El Primer Mago del Cine (1896-1913). >IMAG.36-61-163-350-397-498

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