segunda-feira, setembro 25, 2017

IMAGINÁRiO – Extra: AS PESSOAS DE MINHA CASA de JÚLIO CONRADO

Originalmente publicado em 1985 (Círculo de Leitores), por recomendação do júri do Prémio Círculo de Leitores (1984), e reeditado em 1986 (Vega), o romance As Pessoas de Minha Casa, de Júlio Conrado, regressa em 2017, revisto e com alterações, sob chancela Âncora. Ou, como salienta o autor, «um trabalho de remodelação», «de maneira a clarificar certos aspectos indutores de moderada confusão», logo tratar-se de «um produto autobiográfico».
Em Apresentação, Júlio Conrado esclarece ainda haver uma «estrutura» «híbrida, isto é, a acção desenvolve-se a partir de uma personagem que em muitos momentos espelha a minha vivência juvenil […], sobrepondo-lhe uma outra figura, a mesma personagem em versão adulta, rigorosamente inventada, tendo como pano de fundo a vida quotidiana na cidade de Lisboa num período que vai do Verão quente de setenta e cinco aos primeiros anos oitenta do século passado». Assim também, a «Vila das Quintas do livro é a Carcavelos dos anos quarenta, cinquenta, a terra das minhas infância e adolescência». Por outro lado, incluem-se agora passagens de «um caderno cujas páginas [foram] preenchidas à mão, sob o título de Memórias Eróticas no Tempo dos Amores Difíceis, e com a assinatura de Serafim João» – supostamente, um pseudónimo do incidental protagonista, chamado Aurélio Romeira…
Eis, portanto, a estratégia recorrente de uma escrita múltipla, sobre a realidade e a imaginação, cuja arquitectura temporal se privilegia e reexpõe. Através de peripécias formuladas, de alusões suprimidas, de referências acrescentadas e de implicações em revitalização. Sem que a essência primordial se atenue, no âmbito narrativo ou por uma abrangente contextualização. Revelando, reflectindo, Júlio Conrado envolve-nos, com argutas ironia e subtileza, num jogo íntimo ou simulado de turbulência e coloquialidade, de encantos e decepções, sobre o autêntico e o actual, a experiência e a maturidade, a própria matéria pretérita e a consistente virtualização interactiva. Um criador versátil e prolífico em inquieta ou explícita evolução perante a sua obra, tornando o repositório matricial d’As Pessoas de Minha Casa em manancial de inesperadas, surpreendentes assunções e alternativas. Um testemunho fascinante e caprichoso, um novelesco volúvel e acutilante, conjugando os contrastes da ficcionação com os artifícios da existência.
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José de Matos-Cruz

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