segunda-feira, agosto 21, 2017

IMAGINÁRiO #676

José de Matos-Cruz | 24 Setembro 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

TRANSIÇÕES
A grande literatura continua a ser um manancial a que o cinema recorre, periódica e primordialmente, para recuperar os seus parâmetros clássicos: transe psicológico, conflito sentimental, dilemas avassaladores, tempos de rotura. Uma tal estratégia envolve ainda, quanto ao enquadramento animatográfico, um outro elemento significativo: um distinto olhar sobre os rituais, através do cotejo das respectivas representações, tal como está implícito no fenómeno das remakes. Eis o potencial latente, para Neil Jordan, em O Fim da Aventura (1999). À partida, um romance autobiográfico (The End of the Affair) de Graham Greene, sobre o qual Edward Dmytryk havia dirigido um filme (1955) memorável, com o mesmo título. Só que o drama vivido por Deborah Kerr e Van Johnson, estilizando as obsessões de culpa e expiação típicas em Edward Dmytryk, corresponde - na realização de Neil Jordan, sendo protagonistas Julianne Moore e Ralph Fiennes - a um outro dilema passional, intenso e dilacerante. As marcas sobre a relação adúltera - um evento trágico, uma decisão enigmática - fundem-se pela sua pulsão erótica. 
 
CALENDÁRiO

04MAI-31JUL2017 - Em Lisboa, Galeria Ratton apresenta Matéria do Tempo - exposição de desenho e pintura de Helena Lapas, sendo curadora Ana Ruivo.

28MAR1938-01JUN2017- Armando da Silva Carvalho: Escritor português, poeta e tradutor - «Deitado sobre ti / ensinas-me a sair / da treva. // Com a boca dorida / por tanta palavra / ensanguentada / devoro o teu cabelo / ouro que se desfaz / por entre os dentes.» (Entre Dentes - excerto). IMAG.136-338-630

01JUN-10OUT2017 - Em Lisboa, Atelier-Museu Júlio Pomar apresenta Das Pequenas Coisas - exposição de objectos, esculturas e assemblages de Júlio Pomar e Pedro Cabrita Reis. IMAG.19-312-405-427-449-495-505-534-552-553-562-582-596-604-610-612-620-631-635-641-646-652

07JUN-31AGO2017 - Em Cascais, Casa Sommer expõe Silva Júnior: Um Arquitecto Em Cascais.

VISTORiA

Os Homens Ocos

Um péni para o Velho Guy

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dissecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada.

Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos rectos, para o outro reino da morte
Nos recordam – se o fazem – não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos,
Os homens empalhados.
T.S. Eliot
(excerto - Tradução de Ivan Junqueira)

VISTORiA

Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia à indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das coisas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, – nada menos que a quimera da felicidade, – ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.
Machado de Assis
- Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)

COMENTÁRiO

Raymond Macherot

É um gigante da estatura de um Hergé ou de um E.P. Jacobs.
André Taymans

BREVIÁRiO

Relógio D’Água edita O Alienista e Outros Contos de Machado de Assis (1839-1908).

Quetzal edita Cântico Final de Vergílio Ferreira (1916-1996).  
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Teorema edita A Especulação Imobiliária de Italo Calvino (1923-1985); tradução de José Colaço Barreiros. IMAG.51-439-482-531-631

Universal edita em CD, sob chancela Decca, Dmitri Shostakovich [1906-1975]: Cello Concertos 1 + 2 por Alisa Weilerstein, com Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks, sob a direcção de Pablo Heras-Casado.  
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Distrijazz edita em CD, sob chancela Palmetto, Sunday Night at the Vanguard por The Fred Hersch Trio.

Porto Editora lança O Livro Grande de Tebas, Navio e Mariana de Mário de Carvalho. IMAG.327-410-528-541-542-543-581-603-612-618-666

MEMÓRiA

29ABR1868-1937 - António Rodrigues da Silva Júnior: Arquitecto português, autor de inúmeras obras no Estoril e em Cascais para aristocratas e comerciantes ricos que desejavam ter, na zona, habitação permanente ou de veraneio; fundador da Sociedade Teosófica Portuguesa, e membro da Academia das Ciências.

23SET1938-1982 - Rosemarie Magdalena Albach, aliás Romy Schneider: Actriz austríaca de cinema - «Na vida, não sou nada - mas, no ecrã, torno-me tudo». IMAG.325-372-518-651

24SET1878-1947 - Charles-Ferdinand Ramuz, aliás C.F. Ramuz: Poeta e ficcionista suíço - «O Leitor: Adeus, riquezas fabulosas, mandou-as à fava! / Não disse nada a ninguém, destruiu / o livro e fugiu / e voltámos ao velho tempo / menos o saco e o que tinha dentro.» (História do Soldado). IMAG.611

25SET1888-1965 - Thomas Stearns Eliot, aliás T.S. Eliot: - Poeta e dramaturgo inglês, distinguido com o Prémio Nobel da Literatura (1948) - «A evolução de um artista produz-se a partir de um sacrifício contínuo, de uma constante extinção da personalidade… Nunca cessaremos de explorar e, por fim, voltaremos ao ponto de partida, como se nada tivéssemos conhecido». IMAG.196-497

1924-25SET2008 - Raymond Macherot: Artista de banda desenhada, criador de Clorofila (1956) e Coronel Clifton (1959) - «Um exemplo do talento multifacetado, um autor injustamente pouco lembrado» (Pedro Cleto). IMAG.217-460

26SET1898-1937 - Jacob Gershowitz, aliás George Gershwin: Compositor americano, autor de Porgy and Bess ou de Rapsody In Blue - «De certo modo, a vida é como o jazz… Funcionamos melhor, quando improvisamos». IMAG.97-248-326-618

29SET1518-1594 - Jocopo Comin Robusti, aliás Tintoretto: Pintor italiano, mestre do Maneirismo - «A pintura de Tintoretto é, em primeiro lugar, a ligação apaixonada entre um homem e uma cidade… Veneza, inquieta, maldita, produziu um inquieto, amaldiçoa nele a sua própria inquietude» (Jean-Paul Sartre - 1953). IMAG.196-468

29SET1618-1680 - Juan Cererols Fornells, aliás Juan Cererols: Compositor e monge espanhol, organista, harpista e violinista, pioneiro ibérico da estética barroca.

1839-29SET1908 - Joaquim Maria Machado de Assis: Escritor brasileiro - «E enquanto uma chora, outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo, cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida.» (Quincas Borba - 1891). IMAG.196-229-231-253-337

1921-29SET2008 - Hayden Carruth: Poeta americano, crítico literário - «Li os mesmos erros em milhares de livros, vi-os também em milhares de filmes, e, como podem passar desapercebidos a alguns, que a eles próprios se consideram artistas, é algo que ultrapassa a minha compreensão». IMAG.218-333
 

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