quarta-feira, maio 10, 2017

IMAGINÁRiO #662

José de Matos-Cruz | 8 Junho 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
Douro, Faina Fluvial (1931) de Manoel de Oliveira
TESTEMUNHOS
O documentarismo constitui, no cinema português, o seu domínio mais fecundo e genuíno, explorado em múltiplas tendências ou correspondências. De facto, num país com pequena e precária indústria das imagens animadas, tal expressão assumiria uma alternativa importante, na própria função técnica e continuidade profissional, investida mesmo como elemento estético, temático e poético, em fitas de representação ficcional. Nas referências da actualidade, pelas expectativas em risco, repercutiu-se um olhar retrospectivo - no qual evoluem as emoções e a maturidade, cruzando afinal os múltiplos registos que o cinema propiciou. É o estímulo das fotografias vivas, cujas representação e projecção readquirem primordiais virtualidades. De certo modo, a nossa própria experiência de ideais, sucessos e desaires também está assim estigmatizada ou latente. Sublimando uma abordagem sobre as pessoas, os eventos e as paisagens, em recorrente transfiguração lírica ou simbólica, o documentarismo afirmou-se, sobretudo, por uma fusão aliciante entre realismo e criatividade. Em causa, está a constância de um olhar sobre a história e a memória, contrastando a evocação ou o testemunho. Essa navegação imaginária que, portanto, nos faz presente entre o passado e o futuro. Além disso, o documentarismo desempenhou, com frequência, uma manifestação de vanguarda, quanto às fases de viragem na produção ou na criatividade. Pioneiro e referencial, logo quando a maravilha técnica desponta. Em pujante expressão artística, pela transição entre o mudo e o sonoro. Persistindo ao longo de décadas, com o empenho e a obstinação de vários cinegrafistas, cada um com a sua marca peculiar.

CALENDÁRiO

19JAN-04MAR2017 - Em Lisboa, Galeria Pedro Cera apresenta Late Night Shopping - exposição de pintura de Gil Heitor Cortesão.

21JAN-19FEV2017 - Em Sintra, Museu do Ar apresenta Penetrando Em Outras Dimensões - exposição de pintura de Rosário Figueiredo Gomes, com fotografias de Cristina Menezes Alves e Luís Miguel Azevedo.

21JAN-25FEV2017 - No Porto, Espaço Mira apresenta Saturnidade - exposição de pintura, desenho, escultura e vídeo de Isabel Ribeiro, sendo curador José Maia. IMAG.543

1940-25JAN2017 - John Vincent Hurt, aliás John Hurt: Actor inglês de teatro, televisão e cinema, intérprete de O Homem-Elefante / The Elephant Man (1980 - David Lynch) - «A sua carreira foi a de um eterno secundário, com uma invulgar capacidade de transfiguração» (João Lopes). IMAG.74

24FEV1927-27JAN2017 - Paulette Germaine Riva, aliás Emmanuelle Riva: Actriz francesa de teatro e cinema, protagonista de Hiroxima, Meu Amor / Hiroshima Mon Amour (1959 - Alain Resnais) - «Vi tudo… Tudo!». IMAG.502

05FEV2017 - Bando à Parte produziu, e estreia no Porto, Ornamento e Crime (2015) de Rodrigo Areias; com Edgar Pêra e Vítor Correia. IMAG.284-414-514-522

23FEV-09ABR2017 - Em Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga/MNAA apresenta, na Galeria de Exposições Temporárias, A Cidade Global - Lisboa No Renascimento, sendo comissárias Annemarie Jordan Gschwend e Kate Lowe.

15FEV-16ABR2017 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Uma Viagem Simbólica: Bairro Histórico de Cascais - exposição de pintura de MAN. IMAG.360

VISTORiA

Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade, não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições da alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada um, por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.
Fernando Pessoa
- Para a Explicação da Heteronímia

TRAJECTÓRiA

VIEIRA DA SILVA
Maria Helena Vieira da Silva nasceu em Lisboa, a 13 de Junho de 1908. Cedo motivada em música e literatura, não tardou a revelar-se para o desenho e a pintura. Atraída pela escultura, em 1924 estudou Anatomia na Escola de Belas Artes de Lisboa. Em Paris aos vinte anos, frequentou as academias La Grande Chaumière e Scandinave, foi aluna de Fernand Léger e trabalhou com Dufresne e Waroquier. Em 1930, casou com o pintor húngaro Arpad Szènes. Em 1931, expôs nos Salons d’Automne e Surindépendants. Em 1932, tornou-se discípula de Bissière, na Académie Ransom. Até finais dos anos ’30, desenvolveu a perspectiva e a repetição, distinguindo-se L’Atelier (1940 - óleo sobre tela). Com a II Guerra Mundial, e após passagem por Lisboa, radicou-se com Arpad no Brasil, expondo no Museu Nacional de Belas-Artes (1942) e concluindo La Partie d’Échecs (1943). Em 1947, regressou a Paris, assinando Bibliothèque (1949). Distinguindo-se no Abstraccionismo Lírico da Escola de Paris, apresentou Bataille des Rouges et des Bleus (1953). Em 1956, naturalizou-se francesa, com Arpad. Galardoada com o Prémio Internacional de Pintura na Bienal de São Paulo (1961), executou L’Enterprise Impossible (1961-1967). Alvo de uma Retrospectiva integral na Fundação Calouste Gulbenkian, após a Revolução dos Cravos o Presidente da República impôs-lhe a Grã-Cruz de Sant’Iago e Espada. Falecido Arpad em 1985, no ano seguinte concluiu Soleils. Em 1988, o Governo atribuiu-lhe a Ordem da Liberdade. Criada a Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva em 1990, em 1991 recebeu o grau de Oficial da Légion d’Honneur pela República Francesa. Faleceu em Paris, a 6 de Março de 1992.

MEMÓRiA

09JUN1918-2011 - Vitorino Barbosa de Magalhães Godinho, aliás Vitorino Magalhães Godinho: Historiador, professor universitário, autor de Ensaios e Estudos - Uma Maneira de Pensar (2009) - «Foi até ao fim um cidadão empenhado, preocupado com o lançamento das bases de uma sociedade democrática» (Guilherme d’Oliveira Martins). IMAG.207-244-358

10JUN1918-2015 - Henriette Eugénie Jeanne Ragon, aliás Patachou: Cantora e actriz francesa - «A [sua] voz rouca fazia romper a alegria popular, às vezes trocista, às vezes brejeira, gritando gosto pela vida» (José Cutileiro). IMAG.568

13JUN1888-1935 - Fernando António Nogueira Pessoa, aliás Fernando Pessoa: Escritor português, poeta e ficcionista - «Nós nunca nos realizamos. Somos dois abismos - um poço fitando o céu».
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13JUN1908-1992 - Maria Helena Vieira da Silva: Artista plástica portuguesa, naturalizada francesa (1956) - «Às vezes, pelo caminho da arte, experimento súbitas, mas fugazes iluminações e então sinto por momentos uma confiança total, que está além da razão. Algumas pessoas entendidas que estudaram essas questões dizem-me que a mística explica tudo. Então, é preciso dizer que não sou suficientemente mística. E continuo a acreditar que só a morte me dará a explicação que não consigo encontrar». IMAG.14-39-42-75-134-168-182-224-227-382-386-392-434-461-486-490-499-500-502-522-553-554-567-579-603-604-609

13JUN1928-2015 - John Forbes Nash Jr, aliás John Nash: Matemático americano - «Talvez seja bom ter uma mente brilhante, mas um dom ainda maior é descobrir um coração bonito». IMAG.571

14JUN1908-1979 - Joaquim Belford Correia da Silva, aliás Joaquim Paço d’Arcos: Ficcionista, poeta e ensaísta português - «Eu não quis fazer História, pretendi escrever umas páginas poucas em que focasse a miséria duns e a grandeza de outros.» (Herói Derradeiro - Introdução). IMAG.219-230-529

1923-15JUN1968 - John Leslie Montgomery, aliás Wes Montgomery: Guitarrista americano de jazz, Prémio New Star (1960) da revista Down Beat - «desenvolveu um estilo único de dedilhado com o polegar, bem como um modo de tocar em oitavas, que se tornariam as suas marcas registadas. A sua extrema liberdade e fluidez no instrumento chamaram, desde o início, a atenção» (Fernando Jardim) - «Se um artista de jazz está efectivamente a tocar, o executante de música clássica tem, necessariamente, de o respeitar». IMAG.419-505

PARLATÓRiO

Não é possível analisar os problemas da realidade portuguesa contemporânea sem os inserir na trama da evolução do nosso país, quer dizer, sem estudar as condições de formação do mundo em que vivemos, a génese da nossa cultura, da nossa sociedade, da estrutura político-económica de Portugal.
Vitorino Magalhães Godinho

BREVIÁRiO

Relógio D’Água edita Ensaios Escolhidos de George Orwell (1903-1950); tradução de José Miguel Silva. IMAG.170-205-212-222-259-313-318-419-424-476

EXTRAORDINÁRiO

OS SOBRENATURAIS – Folhetim Aperiódico

MAL TORNA AO CRIADOR QUEM, SUJEITO, SE REFAZ - 9

Depois, Joel tornou-se proxeneta de almas, escavando nelas, estilizado, um suplício irritante, como funcionário catártico do Poder vigente. Às tantas, canino, deleitava-se mesmo a infligir tormentos vãos aos pobres diabos, idealistas, num desbarato quanto à integridade militante.
Continua

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