sexta-feira, fevereiro 24, 2017

IMAGINÁRiO #651

José de Matos-Cruz | 16 Março 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

TENDÊNCIAS
Como em todas as artes e com todas as modas, também a banda desenhada recupera vertentes tradicionais, para reflectir as suas vanguardas. Uma tendência de culto pelos anos ’50 e ’60, logo na América do século passado, quadros da história são recriados em quadradinhos - como a prestigiosa série Age of Bronze, lançada sob chancela Image Comics em 1998. Pelo número # 10, o argumentista/ilustrador Eric Shanower propôs-nos Sacrifice - um arco heróico/lendário em várias partes, que principia com a triunfal chegada de Helena a Tróia. O orgulhoso Paris parece desprezá-la, perante o rei Príamo, seu venerável pai. Entretanto, o Conselho divide-se, entre prestar guarida a Helena ou expulsá-la. E também Eneias se debate em conflitos do coração… Um autor de Batman, Ed Brubaker considera Age of Bronze o mais emocionante testemunho, sagrado em bd, sobre antigas culturas e religiões. Para Louise Hitchcock, investigadora da Universidade de Los Angeles, trata-se de uma fascinante convergência entre os mitos de Homero e a civilização mediterrânica.
 
CALENDÁRiO

15OUT2016-15JAN2017 - No Porto, Museu de Arte Contemporânea de Serralves apresenta The Living Wedge - exposição de pintura de Michael Krebber (Alemanha), sendo comissário João Ribas.

10NOV2016-04JAN2017 - Em Lisboa, Galeria Cristina Guerra apresenta Bad Thoughts - exposição de escultura de Erwin Wurm (Áustria).

17NOV-10DEZ2016 - No Porto, Palacete dos Viscondes de Balsemão apresenta Porto - Invicta e Monumental - exposição de pintura de Álvaro Mendes.

17NOV-23DEZ2016 - Em Lisboa, Galeria Pedro Cera apresenta In Order of Appearance - exposição de pintura de Ana Manso.

25NOV2016-08JAN2017 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Time | out of time - exposição de fotografia de António Lopes. IMAG.519

25NOV2016-14JAN2017 - Em Lisboa, Galeria Vera Cortês apresenta Attempting Exhaustion - exposição de fotografia de Daniel Blaufuks. IMAG.475-546-583

1930-26NOV2016 - Arlindo Duarte de Carvalho, aliás Arlindo de Carvalho: Compositor e maestro português, autor de Chapéu Preto, e distinguido com a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores / SPA (2011).

01DEZ2016 - David & Golias produziu, e estreia Estive Em Lisboa e Lembrei de Você (2015) de José Barahona; com Paulo Azevedo e Amanda Fontoura.

06-31DEZ2016 - Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa apresenta Leite de Vasconcellos [1858-1941] 75 Anos Depois - exposição de fotografia e vídeo. IMAG.128-185-196

07DEZ2016-26FEV2017 - Em Cascais, Casa das Histórias Paula Rego expõe Na Praia / On the Beach de Paula Rego, sendo curadora Catarina Alfaro. IMAG.11-13-31-199-205-258-269-325-342-351-357-364-370-399-416-464-486-489-515-545-596-597-620-621-629

COMENTÁRiO

Laurence Sterne
Tornou-se o escritor mais livre de todos os tempos, e o grande mestre do equívoco… Esse era o seu propósito, ter e não ter razão ao mesmo tempo, combinar elementos profundos e superficiais. Não resistimos à sua fantasia benévola, sempre benévola.
Friedrich Nietzsche

MEMÓRiA

16MAR1908-1944 - René Daumal: Ficcionista e poeta francês - «Das outras guerras - as que se suportam - não falarei. Se falasse delas, seria literatura de cordel, um substituto, um à falta de melhor, uma desculpa. Tal como me aconteceu empregar a palavra terrível sem ter pele arrepiada. Tal como empreguei a expressão morrer de fome sem nunca ter roubado nos mercados. Tal como já falei de insânia antes de tentar olhar o infinito através do orifício da fechadura. Tal como já falei de morte, antes de sentir a minha língua captar o sabor a sal e a irreparável.» (A Guerra Santa).

16MAR1928-2014 - Karlheinz Bőhm: Actor austríaco, protagonista da trilogia Sissi (anos ’50) com Romy Schneider, fundador da associação humanitária Menschen fűr Menschen (1981), distinguido com o Prémio Balzan (2007). IMAG.518

1713-18MAR1768 - Laurence Sterne: Escritor irlandês - «Tal como a sede de riqueza, a vontade de conhecimento está sempre a aumentar, consoante o vamos adquirindo… A solidão é a mãe da sabedoria». IMAG.444

19MAR1888-1976 - Josef Albers: Artista plástico americano, de origem alemã - teórico e professor na Bauhaus, pintor abstracto, designer e tipógrafo - «Em aritmética, um mais um são dois… Mas, em arte, podem ser três». IMAG.411-556

19MAR1938-1999 - Manuel Fernando Costa e Silva, aliás Manuel Costa e Silva: Cineasta português, realizador, produtor e director de fotografia - «Um director de fotografia tem de conhecer a pintura, por causa das cores e da luz. A escola holandesa e a espanhola são de importância fundamental». IMAG.170-212-256-366

1922-19MAR2008 - David Paul Scofield, aliás Paul Scofield: Actor inglês do teatro e do cinema, distinguido com o Oscar como Thomas More em Um Homem Para a Eternidade / A Man For All Seasons (1966 - Fred Zinnemann) - «Entre os grandes dez momentos do teatro, oito pertencem a este excepcional actor» (Richard Burton). IMAG.191-355

20MAR1828-1906 - Henrik Johan Ibsen, aliás Henrik Ibsen: Dramaturgo norueguês - «A aptidão para a felicidade não é igual em todos os homens. Ela é mais forte nos medíocres, do que nos homens superiores ou imbecis… A felicidade é uma estação intermédia entre a carência e o excesso». IMAG.83-115-268-451-563

TRAJECTÓRiA

Henrik Ibsen
Considerado um dos precursores do teatro moderno, Henrik Ibsen nasceu a 20 de março de 1828, em Skien, na Noruega. Pertencia a uma família numerosa e arruinada. Foi aprendiz numa farmácia mas, ambicioso, conseguiu terminar o liceu e chegou a inscrever-se em Medicina. Os seus interesses iam, contudo, para a política e para a literatura. Em 1850 publica a peça Catilina e escreve O Túmulo do Guerreiro. Trabalha para jornais e torna-se encenador do Teatro Nacional Norueguês. Na viagem que faz à Alemanha e à Dinamarca descobre a obra de Shakespeare, a filosofia de Kierkegaard e o livro de Hermann Hettner Das Moderne Drame. Estas influências vão fazer-se sentir no seu trabalho: A Noite de S. João (1853), A Senhora Inger de Oestraat, (representada em 1855), e A Festa Em Solhaug (inspirada pelas sagas islandesas e o seu primeiro grande sucesso). A Comédia do Amor (1862) reflecte o seu pessimismo, satirizando o casamento. No ano seguinte, Os Pretendentes à Coroa retomam os temas históricos noruegueses.
As tomadas de posição críticas e polémicas de Ibsen fazem dele uma personagem incómoda em certos meios. O posto de conselheiro cultural do Teatro Norueguês em Cristiânia (actual Oslo), oferece-lhe a oportunidade de viajar e fixa-se em Itália e depois na Alemanha. As suas primeiras obras-primas, Brandt (1866) e Peer Gynt (1868) evidenciam a atracção pela dialéctica dos extremos opostos, resumida na expressão «ou tudo ou nada». O autor valoriza a manifestação da vontade e da personalidade humanas, atacando a cobardia e o espírito conformista. Imperador e Galileu (1877) é a última obra desta fase romântica.
As suas preocupações tornam-se predominantemente políticas, sociais e éticas e surge assim o seu período naturalista, de observação da realidade e de crítica às estruturas da sociedade. A União dos Jovens (1868) e Os Pilares da Sociedade (1877) atacam a moral burguesa. A Casa da Boneca (1879), para além do tema da liberdade e da igualdade dos sexos, aponta um tema novo, explorado igualmente em Os Espectros (1861), o de que «o nosso passado nos persegue». Um Inimigo do Povo (1882), é a luta contra a mediocridade de um homem só em face dos outros. Em O Pato Selvagem (1884), embora tratando de um drama social, as preocupações políticas são menos evidentes e a peça deixa transparecer uma simbologia pessimista que se vai acentuar em Rosmersholm (1886). A Dama do Mar (1888) e Hedda Gabler (1890) analisam as profundezas do inconsciente humano. Ibsen regressa à Noruega em 1891, merecendo o respeito e a admiração de todos. Escreve ainda Solness, o Construtor (1892), O Pequeno Eyolk (1894), João Gabriel Borkmann (1896), e Quando Acordamos Entre os Mortos (1899), antes de morrer em 1906.
Em Ibsen, o culto do individualismo é fundamentado na necessidade de realização pessoal, só possível através da sinceridade para consigo mesmo. A recusa da mediocridade mais não é do que recusa da indiferença e do conformismo social. A vontade é, assim, um dos temas predominantes do seu teatro, o que não exclui uma interrogação permanente e por vezes angustiada.

BREVIÁRiO

Temas e Debates | Círculo de Leitores edita Paula Rego Por Paula Rego de Anabela Mota Ribeiro.

Pianola Editores lança Judea de Diniz Conefrey; adaptação livre da novela Mocidade de Joseph Conrad (1857-1924).IMAG.157-224-243-289-301-303-325-332-377-395-418-430-448-477--504-534-564-571-596-624-637

Ulisseia edita Contos Fantásticos de Edgar Allan Poe (1809-1849); tradução de João Costa. IMAG.66-211-244-254-376-454
 

terça-feira, fevereiro 21, 2017

IMAGINÁRiO EXTRA: JOSÉ RUY e CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO

A vertente histórica, com características pedagógicas de reflexão ou testemunho, continua a revelar-se, em banda desenhada, uma das alternativas mais aliciantes e populares, conjugando a expectativa de editores e criadores, ao interesse das instituições e dos leitores de todas as idades.
Tendo-se especializado, pelos últimos anos, na revisão de ocorrências do passado, recente ou remoto, através do perfil dos seus eventuais protagonistas, ou das ocorrências mais relevantes, José Ruy concretiza outras propostas de revitalização, em incidências exemplares e implicações primordiais: eis Carolina Beatriz Ângelo (1878-1911) - um lançamento com chancela Âncora, sobre a Pioneira Na Cirurgia e No Voto, sendo consultor científico João Esteves.
Para esta «figura de vulto da Medicina Portuguesa», também «a primeira mulher portuguesa a votar nas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte» de 1911 - palavras de Jaime Teixeira Mendes, Presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos -, maçónica e republicana, José Ruy convoca um instantâneo fotográfico por Joshua Benoliel da Illustração Portugueza, ou a evocação emocionada da escritora e amiga Ana de Castro Osório.
Testemunhando, solidário, os desafios singulares e os ideais colectivos, como artista talentoso, versátil, em afecto também pelo homem afável, generoso, José Ruy é - sobretudo - um autor português que, através das histórias em quadradinhos, delineou o carácter com que nos posicionamos, na realidade. Inspirando o melhor da fantasia e dos anseios, em que perspectivamos uma sociedade mais justa.

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sexta-feira, fevereiro 17, 2017

IMAGINÁRiO #650

José de Matos-Cruz | 8 Março 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

AVENTURAS
Mitificados pela própria lenda de Hollywood, muitos filmes americanos, consagrados entre clássicos e obras-primas, transferem-se para além da sua história, ou do específico enquadramento em que surgiram, eles mesmos testemunhos de um espectáculo tão virtual como o cinema e seus modelos de produção. Céu Aberto (1952) é exemplar de tal fenómeno, realizado por Howard Hawks com a chancela RKO, através da sua Winchester Productions. Em 1938, Hawks dirigira As Duas Feras para aquela companhia, então uma das três majors de Hollywood, e entretanto em crise, passando a ser gerida por Howard Hughes. Pretendendo revitalizá-la, este desafiou Hawks - um nome prestigiado e de sucesso popular - a concretizar um segundo western, após o tão apreciado Rio Vermelho (1948). E Hawks não resistiu ao repto do seu velho amigo, que lhe dava finalmente ensejo de constituir um «fresco original», adaptando o épico The Big Sky do eminente escritor A.B. Guthrie Jr. A árdua tarefa, que aliás se deteve pelos primeiros trechos romanescos, foi confiada ao talentoso Dudley Nichols, que assinou argumentos tão notáveis como Cavalgada Heróica (1939) de John Ford, entre as décadas áureas de ’30 e ’50. IMAG.27-160-274-377-381-449-578-613

CALENDÁRiO

09NOV2016-13FEV2017 - Em Lisboa, Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia / MAAT apresenta Misquoteros - A Selection of T-Shirts Fronts - exposição de pintura de Eduardo Batarda, sendo comissários Ana Anacleto e João Fernandes. IMAG.146-388-515-625-641

25NOV2016-22JAN2017 - Em Lisboa, Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva expõe Desenhos Têxteis de Filipe Rocha da Silva. IMAG.235

VISTORiA

O Sol É Grande

O sol é grande: caem coa calma as aves,
Do tempo em tal sazão, que sói ser fria.
Esta água que de alto cai acordar-me-ia,
Do sono não, mas de cuidados graves.

Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
Qual é tal coração que em vós confia?
Passam os tempos, vai dia trás dia,
Incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores,
Vi tantas águas, vi tanta verdura,
As aves todas cantavam de amores.

Tudo é seco e mudo; e, de mistura,
Também mudando-me eu fiz doutras cores.
E tudo o mais renova: isto é sem cura!
Francisco de Sá de Miranda
- As Obras do Celebrado Lusitano

A Redenção

A divina emoção que tu me deste,
Já m’a deu uma árvore ao poente…
Não é só teu encanto que te veste:
A seiva e o sangue rezam irmãmente.

Às vezes nuvens, mares, areais,
Dão-me mais sonho do que os olhos teus…
É como se eles fossem meus iguais,
Tendo nós todos fé no mesmo Deus…

Não será isto o instinto, a profecia,
De que desfeitos e transfigurados
Viveremos num só, numa harmonia?…

Sim, deve ser: amor, sonho, emoção,
São esforços febris d’encarcerados
Para quem a Unidade é a redenção.
António Patrício
VISTORiA

De manhãzinha, vou por acaso à parte sul da casa. E olhem! Não querem lá ver! Ali está ele deitado na cama, quase vestido, a dormir. Muito pálido. A que horas teria entrado?
Victor Segalen
- A Cidade Proibida


MEMÓRiA

07MAR1878-1930 - António Pires Patrício, aliás António Patrício: Escritor e diplomata português - «Viver é ter ainda uma quimera erguida / Ou um sonho febril a soluçar de rastos; / É beijar toda a dor humana, toda a Vida, / Como eu beijo a chorar os teus cabelos castos…». IMAG.172-277-488-592

10MAR1768-1837 - Domingos António Sequeira, aliás Domingos Sequeira: Artista plástico português - «Um visionário que prolonga a sua arte para lá dos limites da ortodoxia académica, bem como da pura visualidade» (José Luís Porfírio). IMAG.496-513-602

10MAR1928-2013 - María Antonia Alejandra Vicenta Elpidia Isidora Abad Fernández, aliás Sara Montiel: Cantora e actriz espanhola - «Todos os homens que amei, pareciam-se incrivelmente com o meu pai». IMAG.460

12MAR1928-2016 - Edward Franklin Albee III, aliás Edward Albee: Dramaturgo americano, autor de Equilíbrio Instável (1966) - «O trabalho do escritor é segurar o espelho para as pessoas se verem» (2004). IMAG.302-639

13MAR1888-1976 - Paul Émile Charles Ferdinand Morand, aliás Paul Morand: Escritor francês, ficcionista e poeta - «Viajar é a maneira mais agradável, menos prática e mais custosa de instruir-se». IMAG.571

14[JAN]MAR1878-1919 - Victor Joseph Ambroise Désiré Segalen, aliás Victor Segalen: Escritor, etnógrafo, arqueólogo e explorador francês - «De longe, de tão longe, venho para junto de ti, amigo, o mais querido. Os meus passos anularam a horrível distância que existia entre nós». IMAG.136-162

1481-15MAR1558 - Francisco de Sá de Miranda: Escritor português, poeta e dramaturgo - «Homem de um só parecer, / dum só rosto e duma fé, / d’antes quebrar que volver / outra cousa pode ser, / mas de corte homem não é.» (Carta a El-Rei D. João III).IMAG.176-244-336

15MAR1738-1794 - Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria: Jurista, filósofo, economista e literato italiano - «É melhor prevenir os crimes do que puni-los depois». IMAG.492

TRAJECTÓRiA

Escritor e diplomata português, natural do Porto. Frequentou a Escola Naval, acabando no entanto por se formar em Medicina, em 1908. Proclamada a República, foi cônsul na Corunha, em Cantão, Manaus, Bremen e outras cidades, vindo a falecer pouco depois de nomeado ministro de Portugal em Pequim.
Como escritor, convergem em António Patrício tendências simbolistas, decadentistas e saudosistas, a que se alia a influência do niilismo de Nietzsche, nomeadamente na recusa de uma finalidade da vida exterior à própria vida. Esta concepção, alheia à metafísica, conjuga-se com um certo panteísmo, na vivência de cada momento perante a omnipresença da morte (a obsessão dos corpos cadavéricos, por exemplo), numa intensa espiritualidade que se manifesta em motivos como a saudade e as contradições e dualismos do homem (finitude e infinitude, carne e espírito, insaciabilidade do donjuanismo), na ânsia nostálgica de absoluto, por exemplo, no amor. Esta tensão trágica é servida por uma escrita de profunda sensibilidade e ritmo poético, numa linguagem de forte carga musical e imagística que o aproxima do simbolismo.
Colaborador das revistas Águia e Atlântida, escreveu os livros de poemas Oceano (1905) e Poesias (1942, edição póstuma), tendo ainda sido editada a sua Poesia Completa (1980). Publicou um livro de contos, Serão Inquieto (1910). É também autor das peças de teatro O Fim (1909), Pedro, o Cru (1918), Dinis e Isabel (1919) e D. João e a Máscara (1924, o ponto alto da sua carreira, que toma como personagem principal o célebre D. Juan), e ainda dos contos de Serão Inquieto (1910). Deixou várias obras inéditas.

BREVIÁRiO

No âmbito do projecto ClimAdaPT.Local, é editado o álbum Reportagem Especial - Adaptação às Alterações Climáticas Em Portugal de Bruno Pinto (argumento), Penim Loureiro (desenho) e Quico Nogueira (cor). IMAG.361-374-534-563-577

VGM edita em CD, sob chancela Alia Vox, Les Éléments: Tempêtes, Orages & Fêtes Marines por Le Concert des Nations, com Jordi Savall. IMAG.263-296-304-334-344-360-382-403-408-412-434-436-460-470-514-522

Lápis de Memórias edita Águas Negras de José Viale Moutinho. IMAG.23-80-101-201-293

Antígona edita Cartas a Um Jovem Poeta de Rainer Maria Rilke (1875-1926); tradução de José Miranda Justo. IMAG.102-112-541-592

Sony edita em CD, sob chancela Columbia/Legacy, The Wall de Roger Waters. IMAG.252
INCM/Imprensa Nacional - Casa da Moeda edita História de Menina e Moça de Bernardim Ribeiro (1500?-1545?); organização de Marta Marecos Duarte. IMAG.61-337-508 
 

quarta-feira, fevereiro 15, 2017

IMAGINÁRiO #649

José de Matos-Cruz | 1 Março 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

(DES)CONSTRUÇÕES
Configurando distintas propostas e alternativas, para o nosso panorama em quadradinhos de expressão independente, a editora Nova Comix lançou A Canção do Viajante (2000) - a história de um homem que busca um caminho para a vida, em rotura com as referências da realidade e das outras pessoas. Um estranho projecto criativo e testemunhador, narrado em várias línguas - francês, inglês, espanhol, alemão - sendo autor Jacques Creswell (heterónimo de Horácio Gomes), um artista natural de Paris e com um curso de pintura tirado em Bruxelas. Vivendo em Portugal desde 1998, reparte-se entre o pai em Coimbra e a mãe em Manchester; ainda em 2000, participou no Zalão de Danda Besenhada, da Galeria Zé dos Bois em Lisboa. Creswell atribui uma eficaz correspondência, entre o traço rude e a trama cáustica, estigmatizando uma vivência de conflitos e tormentos de que o futuro será, afinal, o mais perturbador enigma. Assim ressalta na rubrica Universo de Autor com que a Nova Comix - sendo responsável Horácio Gomes - desvenda os seus artistas, em abordagem e entrevista de parceria com Edgar Jorge Queimadas. A propósito, Creswell repara que «todas as culturas estão a ser desconstruídas e anuladas, e por conseguinte, também a identificação do indivíduo está sujeita à pressão das reformulações necessárias daí consequentes, para se atingir uma nova identidade pessoal».

VISTORiA

Post Scriptum

Eu, Antonin Artaud, sou o meu filho,
o meu pai,
a minha mãe,
e eu mesmo.
Eu represento Antonin Artaud!
Estou sempre morto.

Mas um vivo morto,
um morto vivo.
Sou um morto
sempre vivo.
A tragédia em cena já não me basta.
Quero transportá-la para minha vida.

Eu represento totalmente a minha vida.

Onde as pessoas procuram criar
obras de arte, eu pretendo
mostrar o meu espírito.
Não concebo uma obra de arte
dissociada da vida.

Eu, o senhor Antonin Artaud,
nascido em Marselha
no dia 4 de Setembro de 1896,
eu sou Satã e eu sou Deus,
e pouco me importa a Virgem Maria.
Antonin Artaud
- Para Acabar Com o Julgamento de Deus (excerto)

Humana Condição

Um sonhar-me distante, um longe incrível
É agora o meu estado: Eu sonho o Espaço
Que se fixa no mundo ao invisível
Como se o mundo andasse por meu braço,

Existo além: Sou o animal temível
De Jesus com o mundo-Deus na mão.
Sou para além do mundo concebível
Onde morre e começa a criação.

Eu, homem, sondo e meço o Infinito;
Sou corpo e espírito, esse corpo oculto,
E é só na mão de Deus que ressuscito.

E chamam a isto humana condição…
Um nada, e tudo: – Vivo e me sepulto
Dentro e fora do próprio coração.
Afonso Duarte
- Ossadas (1947)
MEMÓRiA

01MAR1928-2016 - Jacques Rivette: Cineasta francês, realizador de O Amor Louco / L’Amour Fou (1969) - «Foi sempre um genuíno experimentalista, interrogando as fronteiras narrativas e existenciais do próprio cinema» (João Lopes). IMAG.197-603

02MAR1898-1990 - Amélia Schmidt Lafourcade Rey Colaço Robles Monteiro, aliás Amélia Rey Colaço: Actriz e encenadora portuguesa, casada em 1920 com o actor Robles Monteiro (1888-1958), tendo formado a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro (1921-1974) - «Emocionava-se com os grandes textos, adorava os clássicos e fazia tudo isso, contra tudo e contra todos, por esta simples razão: acreditava que o teatro é fascínio» (José Mendes). IMAG.107-169-194-307-328-339-400-434-534-635

04MAR1678-1741 - Antonio Lucio Vivaldi, aliás Antonio Vivaldi: Compositor e músico italiano, ligado ao barroco tardio, autor de As Quatro Estações - «Foi um autor de uma genial obra musical muito vasta, tendo composto centenas de concertos e dezenas de óperas, sinfonias, serenatas, cantatas, sonatas… Assim, conseguiu criar em grande quantidade e em qualidade» (Nuno Sotto Mayor Ferrão). IMAG.169-205-209-254-265-284-294-332-408-426-520

1896-04MAR1948 - Antoine Marie Joseph Artaud, aliás Antonin Artaud: Poeta, dramaturgo, encenador e actor francês - «Exprimir objectivamente verdades secretas… Uma linguagem mais concreta que a utilizada para falar da esfera psicológica: mudar a finalidade da palavra no teatro, é servir-se dela num sentido concreto e espacial, combinando-a com tudo o que o teatro contém de espacial e de significação concreta; é manipulá-la como objecto sólido, capaz de abalar as coisas inicialmente no ar, e em seguida num domínio mais misterioso e mais secreto» (O Teatro e O Seu Duplo). IMA G.32-97-173-179-212-577

1884-05MAR1958 - Joaquim Afonso Fernandes Duarte, aliás Afonso Duarte: Poeta português - «Erros meus a que chamarei virtude, / Por bem vos quero, e morro despedido / Sem amor, sem saúde, o chão perdido, / Erros meus a que chamarei virtude. // A terra cultivei, amargo e rude, / No sonho de melhor a ter servido; / Para ilusão de um palmo de comprido, / A terra cultivei, amargo e rude. // E o amor? A saúde? Eis os dois Lagos / Onde os olhos me ficam debruçados / – Azul e roxo, rasos de água os Lagos. // Mas direis, erros meus, ainda amores? / – São bonitos os dias acabados / Quando ao poente o Sol desfolha flores.» (Sibila - 1950). IMAG.188-251-449

1870-06MAR1958 - Óscar Courrège da Silva Araújo, aliás Óscar da Silva: Compositor e pianista português, autor de Sonata Saudades e Páginas Portuguesas - «As suas composições musicais patenteiam a centralidade que concedeu ao piano, sendo reveladoras de timbres líricos ligados à corrente Romântica e pontualmente algumas das suas obras denotam influências da corrente Impressionista» (Nuno Sotto Mayor Ferrão). IMAG.376

CALENDÁRiO

24SET-11DEZ2016 - Em Lisboa, Pavilhão Branco da Galeria Municipal apresenta Os Pirómanos - exposição de pintura de Rui Moreira, sendo curadores João Mourão e Nuno Faria.

14OUT2016-15JAN2017 - Em Santo Tirso, Museu Internacional de Escultura Contemporânea expõe Escultura Íntima de Miquel Navarro (Espanha). IMAG.261

30OUT2016-23JAN2017 - Arquivo Municipal de Lisboa expõe Visão de Um Fotógrafo Contemporâneo de José Luís Neto. IMAG.360-393-458

1934-07NOV2016 - Leonard Norman Cohen, aliás Leonard Cohen: Artista canadense, poeta, compositor e cantor - «Durante seis décadas, revelou a sua alma ao mundo através da poesia e das canções - com uma profunda e intemporal humanidade, tocando o nosso íntimo… A sua música e as suas palavras ressoarão para sempre» (Rock & Roll Hall of Fame - 2008).
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10NOV2016 - NOS Audiovisuais estreia Saca - O Filme de Tiago Pires de Julio Adler; com Kelly Slater e Mick Fanning.

11NOV2016-05FEV2017 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Rosáceas de Manuela Castro Martins.

BREVIÁRiO

Sony edita em CD, sob chancela Columbia, You Want It Darker de Leonard Cohen.
Harmonia Mundi edita em CD, Henri Dutilleux [1916-2013]: Tout Un Monde Lointain por Emmanuelle Bertrand, com Luzerner Sinfonieorchester sob a direcção de James Gaffigan. IMAG.349-421-466-547 
 

segunda-feira, fevereiro 13, 2017

IMAGINÁRiO #648

José de Matos-Cruz | 24 Fevereiro 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

ORIGINALIDADES
«A arte de fazer o público rir não é coisa simples… Mas quando, além disso, se pretende levar os outros a pensar, então só um inteligente pode interpretar um idiota!» Eis palavras de Groucho Marx, a certo passo da Autobiografia. E, em suas deambulações pela memória, o extraordinário cómico admitia que se tornou difícil continuar original, sobretudo nas piadas. Tal como, durante o período áureo dos anos ’20 e ’30 do Século XX, não era mais fácil ser natural, num género cinematográfico que então nascia… Por essa altura, e dirigidos por William A. Seiter, os Irmãos Marx protagonizavam Um Criado ao Seu Dispor (1938), um dos grandes marcos da comédia clássica de Hollywood. E, curiosamente, trata-se do único filme que não foi propositadamente escrito para eles - baseando-se antes no vaudeville de John Murray & Allen Boretz, Room Service, estreado na Broadway em 1937. Os responsáveis pela RKO decidiram explorar o seu enorme sucesso numa fita com os Irmãos Marx, que à época estavam contratados pela MGM. Eles aceitaram, devendo a adaptação ser feita pelo seu habitual argumentista, Morrie Ryskind, que teve que inventar uma outra personagem para ser representada pelo mano Harpo. IMAG.24-136-293-622

CALENDÁRiO

08OUT2016-16ABR2017 - Em Elvas, Museu de Arte Contemporânea apresenta Crystal Clear - exposição de fotografia de Augusto Alves da Silva, sendo curador Carlos Vargas.

28OUT2016-08JAN2017 - Em Lisboa, Culturgest expõe Lourdes Castro - Os Meus Álbuns de Família Um a Um, sendo curador Miguel Wandschneider. IMAG.42-63-294-392-461-469-486-569-578

29OUT2016-30ABR2017 - Em Sintra, Palácio da Pena apresenta Fernando Coburgo Fecit | A Actividade Artística do Rei-Consorte - exposição comemorativa do bicentenário do nascimento de el-rei D. Fernando II (1816-1885), sendo curador Hugo Xavier. IMAG.132

1933-01NOV2016 - Carlos Alberto Santos: Artista plástico português, pintor e ilustrador, autor de banda desenhada - «…Um extraordinário vulto das artes gráficas e plásticas portuguesas dos últimos 60 anos e […] um homem de gentileza ímpar, [com um] percurso, breve mas igualmente extraordinário, como banda desenhista» (Jorge Magalhães - in O Gato Alfarrabista). IMAG.149-256-487-624

1930-02NOV2016 - Oleg Konstantinovich Popov, aliás Oleg Popov: Artista de circo russo, conhecido por palhaço-sol - «Cada uma de suas actuações era uma festa» (Vladimir Medinski).

03NOV2016 - Laranja Azul produziu, e estreia A Toca do Lobo (2015) de Catarina Mourão; sobre Tomaz de Figueiredo (1902-1970). IMAG.272-432

19NOV2016 - Em Cascais, Bedeteca José de Matos-Cruz / Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana leva a efeito a 2.ª sessão das Conversa(s) Sobre Banda Desenhada, sendo convidado José Garcês.
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12JAN-26FEV2017 - Em Lisboa, Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado apresenta Amadeo de Souza-Cardoso 2016-1916 - sendo comissárias Raquel Henriques da Silva e Marta Soares, recriando a exposição do artista (1887-1918) no Jardim Passos Manuel (Porto - 1916).  
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EPISTOLÁRiO

Não existem detalhes biográficos. Balthus é um pintor de quem nada se sabe. Portanto, há que ver os seus quadros…
Balthus
(Telegrama à Tate Gallery – 1968)

COMENTÁRiO
O tema de Um Criado ao Seu Dispor (1938 - William A. Seiter) não poderia ser mais a propósito! Tendo em montagem a peça Olá Adeus!, cujo êxito certo o estimula, apesar de não ter dinheiro, o empresário Gordon Miller hospeda-se no White Way Hotel, de que é gerente o seu cunhado Joseph Gribble, e onde já estão o encenador Harry Binelli, o dito contabilista Faker Englund, os vários actores e candidatos a tal, além de um suposto médico. Tudo se agrava com a chegada do autor, Leo Davis, também ele falido, que saiu de casa e sonha mesmo com os aplausos do público. Gribble exige o pagamento de 1200 dólares, ou expulsará todos, mas simulam-se doenças e mortes, além de desesperados pretextos e estratagemas, para aguentar a situação até à hora da estreia…
Um Criado ao Seu Dispor é o único filme com os Irmãos Marx que não inclui números musicais ou bailados, o que torna mais insólita a inclusão no elenco de uma jovem Ann Miller. Por outro lado, embora em destaque no genérico, Lucille Ball interpreta um ligeiro papel periférico, tendo a propósito comentado Groucho: «Ela nem sequer é uma comediante, não passa de uma actriz. E há diferença. Pessoalmente, nunca lhe achei muita graça. Precisa sempre de se fazer apoiar num texto, pois ser espontânea é algo que lhe falta!»
O humor exuberante, a desvairada extroversão dos Irmãos Marx, dominam assim Um Criado ao Seu Dispor, como sátira ao meio teatral, suas engrenagens negociais e estratégias artísticas. Apenas com suporte em breves exteriores, a rodagem decorreu praticamente em estúdio, aliás vandalizado pelo talento impetuoso, recorrente de Chico, Harpo e Groucho Marx. Fantasistas, absurdos, por vezes grosseiros e sempre diletantes, inigualáveis pelo estilo gesticulatório, na mímica impecável, através duma verborreia burlesca e de insinuações contundentes.
Escroqueria, corrupção, espertezas, vigarices, sobressaem através de peripécias irresistíveis, de um diálogo extravagante, sublimando a farsa delirante em paralelo ao contexto sentimental que preconiza uma prestação prestigiosa, pelas habituais vedetas convidadas - cabendo, ainda, destacar Frank Albertson. Em 1949, a RKO produziu Amor, Música e Sarilhos com realização de Tim Whelan - uma remake de Um Criado ao Seu Dispor já ao estilo musical, sendo primeiras figuras Frank Sinatra e Adolphe Menjou. Nada, porém, que se compare à primordial modernidade que os Irmãos Marx celebraram - pela feroz cumplicidade de uma espectacular carga histriónica.

MEMÓRiA

1924-FEV2008 - Maria Alice da Silva Jorge, aliás Alice Jorge: Pintora, gravadora e ceramista portuguesa, entre os fundadores da Cooperativa Árvore (anos ’50) - «Uma mulher extraordinária, não apenas pelos seus altos méritos artísticos e pedagógicos, mas também pela coerência e dignidade com que, antes e depois do 25 de Abril, sempre se envolveu em grandes causas humanas e políticas, e defendeu os valores da liberdade e da democracia» (Público - 2008).

29FEV1908-2001 - Balthasar Klossowski de Rola, aliás Balthus: Artista plástico polaco-francês - «Vejo a adolescência como um símbolo. Não conseguiria pintar uma mulher. A beleza da adolescência é mais interessante. A adolescência encarna o futuro: um ser antes de se transformar em beleza perfeita. Uma mulher já encontrou o seu lugar no mundo, uma adolescente não. O corpo de uma mulher está completo. O mistério desapareceu». IMAG.168

BREVIÁRiO

Verbo edita O Modernismo de Carlos Reis e António Apolinário Lourenço.
Sony Music edita em CD e DVD, Dois Amigos - Um Século de Música de Caetano Veloso e Gilberto Gil. IMAG.11-166-180-478

Dom Quixote edita Uma Outra Memória de Manuel Alegre. IMAG.66-205-276-314-337-366-377-560-603-611

E-Primatur edita Nos Mares do Fim do Mundo de Bernardo Santareno (1920-1980). IMAG.155-169-288-635

Caroline edita em CD, sob chancela Rekords Rekords, Post Pop Depression de Iggy Pop.

Porto Editora lança Letra Aberta de Herberto Helder (1930-2015). 
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INCM/Imprensa Nacional - Casa da Moeda edita Relance da Alma Japonesa de Wenceslao de Moraes (1854-1929). IMAG.5-16-32-49-101-233-468

EXTRAORDINÁRiO

OS SOBRENATURAIS - Folhetim Aperiódico

MAL TORNA AO CRIADOR QUEM, SUJEITO, SE REFAZ - 5

Não houve uma transferência sexual, ou sua mistificação. Só que uma neutra sobreposição de máscaras, masculina e feminina, distorceu as matrizes essenciais de Joel e Ofélia. Desabrida, funesto.
Foi uma orgia depravada que estarreceu tudo e todos, até frequentadores e engajadores habituais num lagar sórdido de sangue e gozo como a Pensão Alegria, lá para as bandas de Almirante Reis. Quem testemunhou, prestes ao atolar-se a escandaleira entre a moral pública e um muro de silêncio, falou num cio ancestral em que se entrechocam vícios e virtudes.
Continua