sexta-feira, janeiro 22, 2016

IMAGINÁRiO #593

 José de Matos-Cruz | 01 Janeiro 2017 | Edição Kafre | Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO
 
PRIMÓRDIOS
A coisa pior e mais certa que se comentou sobre os primórdios de Bryan Singer, é que se tratou de um cruzamento entre Woody Allen e Quentin Tarantino. Essa mutação brotaria num filme insólito, fenomenal - Os Suspeitos do Costume / The Usual Suspects (1995). Mas o realizador de X-Men (2000) já tivera Public Access (1992), e lá está a matriz essencial de um cineasta que, com ironia e inteligência, explora um imaginário subtilmente perverso, nos estigmas entre o bem e o mal, enquadrados pelo padrão psicológico de cada personagem distorcida; estilhaçando tais referências sob as pulsações de uma intriga insinuante e fatídica. Ao assinar a sua terceira longa metragem, as características em causa encontraram um protagonista excepcional em Ian McKellen, que contra os X-Men assumiu Magneto, a trágica nemésis dos super-heróis. 
Começando a filmar em adolescente, com uma câmara de 8 mm, Singer estudou na School of Visual Arts em Nova Iorque, prosseguindo a sua aprendizagem na University of South California de Los Angeles, revelando-se com a curta metragem Lion’s Dead (1988). Public Access distinguiu Singer com o Grande Prémio do Júri no Sundance Film Festival, mas a consagração chegaria com Os Suspeitos do Costume: Oscars para os Melhores Actor Secundário (Kevin Spacey) e Argumento Original (Christopher McQuarrie) - manipulando uma acção equívoca, surpreendente, estilizada por Singer com olhar brutal, fascinador, quanto às (ex)tensões do thriller no cinema independente. IMAG.109

CALENDÁRiO
 
¢SET-31DEZ2015 - Em Lisboa, Galeria São Roque Too expõe António Costa Pinheiro [1932-2015] - O Pintor Por Ele-Mesmo, sendo comissário Bernardo Pinto de Almeida. IMAG.239-312-486-569-590

¸17OUT2015-30ABR2016 - Em Vila Franca de Xira, Museu do Neo-Realismo expõe Manuel Guimarães [1915-1975], Sonhador Indómito, sendo curadora Leonor Areal. IMAG.47-74-86-131-137-150-223-334-347-500-521-527-548-572

O31OUT2015-23JAN2016 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação Luís I apresenta D. Luís de Portugal - Perspectivas; ciclo de Conferências / Concerto sobre El-Rei D. Luís I (1838-1889). IMAG.200-247-368-531
 
¸1933-01NOV2015 - José Fonseca e Costa: Cineasta português, realizador e produtor - «A burocracia mata a criatividade. A criatividade devia matar a burocracia, a criatividade somos nós» (2014). IMAG.63-77-117-126-158-192-223-334-508

¢02NOV-19DEZ2015 - Em Lisboa, Casa da Liberdade - Mário Cesariny apresenta Artur Bual [1926-1999] - Exposição Retrospectiva (1940-1999).
  
PARLATÓRiO

¨A caridade é isto: é este condescender incessante com todos os apelos; é esta concorrência ofegante e apressada a todos os chamamentos! E a sua influência são amanhã as enfermidades saradas, os pobres consolados, e as tristezas sem dor… Deixem-me alevantar o espírito neste país que talhou a pique as suas formas esculturais, e recortou, como de pólo a pólo, as suas feições gigantescas n’uma montanha imensa, que atira com a sua testa para o meio das nuvens para que as estrelas lhe emoldurem lá em cima tiara esplêndida, e cá em baixo assenta as suas bases n’um mundo imenso, onde Alexandre d’Humbold, sábio imenso como ele, viu, à luz poderosa da sua presciência enorme, o empório da civilização futura!
Vieira de Castro
- Discurso Sobre a Caridade (excerto)
- Recitado no Salão do Theatro Lyrico do Rio de Janeiro, em 26JAN1867


TRAJECTÓRiA

João Gaspar Simões
¨ Escritor, ensaísta, crítico literário e jornalista português nascido a 25 de Fevereiro de 1903, na Figueira da Foz, e falecido a 6 de Janeiro de 1987, em Lisboa. Enquanto cursava Direito em Coimbra, colaborou com José Régio e Branquinho da Fonseca, participando, em 1927, na fundação da revista Presença, aí se revelando como crítico literário especialmente atento aos valores intrínsecos da obra literária na sua conexão, com eixos biográficos e geracionais. Foi também bibliotecário na Biblioteca da Imprensa Nacional, em Lisboa. Como outros críticos da Presença, pertence-lhe o mérito de ter divulgado o primeiro modernismo, tendo, com Luís de Montalvor, editado as Obras Completas, de Fernando Pessoa (Ática, 1942-45) e publicado uma biografia exaustiva sobre o autor de Mensagem, umas e outra responsáveis, de modo diverso, pela difusão da estética pessoana junto de gerações posteriores ao Orpheu, e, muito especialmente, junto da geração de 50. Tendo, entre os anos 30 e 70, marcado a história da crítica literária em Portugal, por uma metodologia especialmente atenta à análise da obra literária na sua interdependência com o percurso biográfico e geracional dos autores abordados, de que se destaca como modelares as obras Eça de Queirós, o Homem e o Artista (1945) e Vida e Obra de Fernando Pessoa (1950), exerceu a crítica literária de modo sistemático nas páginas de publicações periódicas como Diário de Lisboa, Diário Popular, Primeiro de Janeiro, Mundo Literário, Diário de Notícias, Átomo, entre outras. No domínio da criação literária, tentado pelo teatro, com cinco peças de factura pouco inovadora, distinguiu-se essencialmente como romancista, tendo-se, com a publicação de Elói, afirmado como representante, em Portugal, de um romance de cunho introspectivo e psicologista. Desenvolveu ainda uma vastíssima actividade como tradutor, tendo vertido para português autores como Balzac, Bernanos, Charlotte Brontë, Caldwell, Jean Cocteau, Diderot, Dostoievski, Gogol, Aldous Huxley, Joyce, Kafka, D. H. Lawrence, Thomas Mann, Merimée, Tchekov, Tolstoi, Turguenev, Oscar Wilde, Voltaire ou Zola.
http://www.infopedia.pt/$joao-gaspar-simoes

VISTORiA
 
¨ Em Juvenal, a inteligência dava-lhe para aquilo: para se negar, para se complicar, para se dissolver por dentro. Assim, inútil pensar em viver. Para viver há que fechar os olhos e parecer cego. Para amar também.
João Gaspar Simões
- Pântano (1940 - excerto)
MEMÓRiA

¯1666-02JAN1747 - Jean-Féry Rebel: Compositor e violinista francês, ao estilo barroco, autor de Les Éléments (1737). IMAG.294-559

¨ 02JAN1837-1872 - José Cardoso Vieira de Castro: Escritor e político português - «Um dirigente académico com alguma importância; um jornalista menor; um escritor sem talento; um político sem poder; um criminoso e um degredado» (Vasco Pulido Valente - Glória). IMAG.389

¨ 1903-06JAN1987 - João Gaspar Simões: Escritor e ensaísta português, biógrafo e crítico literário - «Tudo o que tenho dito sobre o romance acaba na mesma trivialidade: não há romance onde não houver imaginação psicológica».  IMAG.128-131-191-203-502
       

INVENTÁRiO

Vieira de Castro
¨ No dia 7 de Maio de 1870, a tragédia aproxima-se, quando, julgando confirmadas as suas suspeitas de infidelidade da sua esposa, com o sobrinho de Almeida Garrett, acaba por assassinar a sua jovem esposa, quando esta dormia, usando para isso, uma almofada com clorofórmio.
No dia seguinte entregou-se às autoridades, confessando o crime. Em 1871, é julgado, partindo para Angola, a fim de cumprir a pena de 10 anos de degredo, vindo a falecer nos arredores de Luanda em 5 de Outubro de 1872, com apenas 36 anos de idade.
Miguel Monteiro
- José Cardoso Vieira de Castro (excerto)
¸Revelando-se com O Recado (1971), após notável experiência pela via documental, José Fonseca e Costa voltou às longas metragens, para exorcizar Os Demónios de Alcácer-Kibir (1975). A produção coube à Tobis Portuguesa - com a participação do Centro Português de Cinema / CPC - executada por Artur Semedo, também protagonista, e coordenada por Paulo de Morais. António H. Escudeiro dirigiu a fotografia em exteriores no Alentejo, e nos estúdios da Tobis Portuguesa - decorados por Madalena & Fernando Pinto Coelho e Jasmim de Matos - de que se manteve o som directo. Também argumentista, com a colaboração de Augusto Sobral, Fonseca e Costa sagra uma visão épica / simbólica de Portugal contra os fantasmas do passado, sobre as vitórias a conquistar de arma na mão. No elenco, destacam-se António Beringela, Ana Zanatti, Sérgio Godinho, Luís Barradas e João Guedes. Os Demónios de Alcácer-Kibir estreou no Quarteto, em 1977, tendo Fonseca e Costa reivindicado uma reflexão «sobre o fim do Império, sem parecer que o faça. Há sinais básicos - como o mito de Dom Sebastião, a independência nacional… É como se, de certa forma, se advertissem as pessoas de que podemos perdê-la de novo. A maior parte dos textos são resultado de leituras da História Trágico-Marítima, d’A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, da História de Portugal de Oliveira Martins. Em minha opinião, só poderá ser bem compreendido em Portugal e por Portugueses, ou então por gente do Terceiro Mundo».
 
BREVIÁRiO
 
Na série Astérix o Gaulês de René Gosciny & Albert Uderzo, Asa edita O Papiro de César de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad. IMAG.2-4-21-29-37-58-69-76-94-101-136-179-206-245-248-275-290-342-356-390-406-418-431-453-504-574


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