quinta-feira, dezembro 03, 2015

IMAGINÁRiO #585

José de Matos-Cruz | 01 Novembro 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

SUBVERSÕES
Do mais remoto algures no tempo, o confronto entre bem e mal sagra-se para a eternidade, envolvendo - numa espiral inexorável - gente comum e fúrias ecológicas. Aí colhem inspiração múltiplos imaginários, de que o cinema é o mais completo, bizarro e, simultaneamente, aglutinador. Mas nem assim deixa de reger-se por mecanismos subversivos de exaltação - sob o signo da aventura ou da catástrofe - pervertendo o elã tradicional com outros riscos ou ameaças supervenientes, pelos requintes da acção. A partir dos anos ’70 do século passado, o terror evoluiu, sob o signo de Hollywood, de universo em moda para um género perturbante, convertendo-se em espectáculo por excelência - graças aos prodígios tecnológicos, à estilização dos códigos de leitura, aos próprios predicados de emoção popular. Exemplo imediato é Tubarão / Jaws (1975) de Steven Spielberg - cujas variantes ou mutações correspondem, desde então, ao insólito dos caprichos, transes e tensões patentes no fenómeno obsessivo ou avassalador de um culto actual.
IMAG.18-23-44-63-71-72-80-88-93-136-147-155-159-171-183-199-225-273-304-383-388-391-412-443-445-465-484-488-506-535-576-00


CALENDÁRiO
µ18SET-18OUT2015 - Em Oeiras, Centro Cultural Palácio do Egipto apresenta Lanzarote - A Janela de [José] Saramago (1922-2010) - exposição de fotografia de João Francisco Vilhena. IMAG.38-75-155-158-196-198-224-241-245-252-263-268-311-331-385-394-412-475-521-539-553-564

¢17SET-24OUT2015 - Em Lisboa, Casa da Liberdade - Mário Cesariny apresenta Antologia de [Joaquim] Martins Correia (1910-1999) - exposição de desenho, pintura, escultura e azulejaria. IMAG.236-261

¢19-27SET2015 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação Luís I expõe The Weight of the Lightness de Astrid Bergmann (Alemanha).

¢19SET2015-15JAN2016 - Em Famalicão, Centro de Estudos do Surrealismo da Fundação Cupertino de Miranda apresenta Texturas da Imaginação - exposição de pintura de Rik Lina (Holanda), sendo comissários António Gonçalves e Perfecto E. Cuadrado.

19SET2015-17JAN2016 - Na Amadora, Casa Roque Gameiro apresenta Casa (Na) Amadora - Vivência e Pensamento de [Alfredo] Roque Gameiro [1864-1935] a Raul Lino (1879-1974). IMAG.40-169-186-197-251-447-474-558

¢24SET-23OUT2015 - Em Lisboa, Museu do Oriente apresenta So Far, So Close - exposição de pintura de Cindy Ng Sio Leng (Macau), combinando vinhos do Douro e vinhos verdes, com tintas convencionais.

¢25SET-22NOV2015 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação Luís I apresenta Contemporâneo Desnudo - exposição de José Batista Marques.

ü26SET2015-26MAI2016 - Museu Municipal de Santiago do Cacém expõe Dom Frei Manuel do Cenáculo [1724-1814] - Itinerários Por Santiago do Cacém.

ANUÁRiO

¯1597-1646 - Virgilio Mazzocchi: Compositor italiano, mestre de capela de várias instituições e igrejas romanas, autor com intensa produção de música sacra e litúrgica.

¨1806-1842 - Carlo Bini: Escritor italiano - «O egoísmo é o único móbil das acções humanas… A sabedoria humana consiste em saber tolerar». IMAG.387

¨1826-1889 - Mikhail Yevgrafovich Saltykov-Stcherdrine, aliás Nikolai Shchedrin: Satírico russo - «A vergonha é a preciosíssima capacidade do homem de relacionar os seus comportamentos com as exigências daquela suprema consciência, que nos foi deixada de herança pela história da humanidade». IMAG.345-548

VISTORiA

¨A excitação, cujos efeitos ainda se faziam sentir, forçaram-na a sentar-se e, os cotovelos apoiados sobre a mesa, a cara entre os punhos, ela permaneceu silenciosa por um momento. Quando de novo retomou a sua narrativa fê-lo com uma voz totalmente transformada; era um murmúrio, um salmodiar sussurrado, era como se outra pessoa falasse em seu lugar:
– O Homem não vale nada, e a sua memória está cheia de buracos que ele nunca poderá passajar. É preciso, no entanto, fazer muitas coisas que nos esquecemos. Cada um de nós esquece o seu quotidiano. Comigo, eram todos os móveis a que limpei o pó dia após dia e a muita loiça que havia para lavar. E como cada qual me sentei para comer a minha refeição, mas como cada qual também era um simples saber de que não há que lembrar, como se não houvesse clima, nem o bom nem o mau tempo. Mesmo o prazer que gozei tornou-se para mim um espaço sem clima, e embora me tenha ficado o reconhecimento pela vida, foram-se apagando os nomes e os traços dos rostos que em tempos significaram prazer e mesmo amor. Desapareceram na transparência de um reconhecimento que já não tem conteúdo. Copos vazios, copos vazios. E no entanto, se não houvesse este vazio, se não houvesse este esquecimento, o inesquecível não poderia desenvolver-se. O esquecimento transporta o inesquecível nas suas mãos vazias, e nós somos transportados pelo inesquecível. Nós alimentamos o tempo, alimentamos a morte com tudo o que foi esquecido. Mas o inesquecível é um presente, é um presente que a morte nos dá, e no momento em que nós o recebemos estamos ainda neste momento aqui, onde nos encontramos, mas ao mesmo tempo estamos já além, lá onde o mundo se precipita na escuridão. O inesquecível é um pedaço do futuro, um pedaço do intemporal com que fomos presenteados antecipadamente, que nos transporta e suaviza a nossa queda nas trevas como se fosse um deslizar. O que se passou com o Senhor de Juna e eu era um presente da morte, um presente escuro, suave e intemporal; e ajudar-me-á um dia a transportar-me, suavemente levada pela plenitude das minhas recordações. Todos dirão que foi o amor, o amor, até à morte. Mas não, não tem nada a ver com o amor, e ainda menos com o chorrilho sentimental. Muitas coisas se podem tornar no inesquecível, nos podem transportar acompanhando-nos, nos podem acompanhar transportando-nos sem que nunca tenham sido o amor, e sem que nunca se pudessem tornar no amor. O inesquecível é um momento de maturidade, produto de outros infinitos momentos, de infinitas semelhanças que o precederam, infinitamente numerosas, que os transportaram. E o momento em que sentimos que, formando, somos formados, fomos formados, que existimos. É perigoso confundir isso com o amor.
Hermann Broch
- A Criada Zerlina (1950 - excerto)
(Versão de António S. Ribeiro com colaboração de José Ribeiro da Fonte,
a partir da tradução de Suzana Muñoz)

MEMÓRiA

¨ 01NOV1886-1951 - Hermann Broch: Escritor austríaco - «Sempre teve uma consciência aguda da distinção entre este ponto de vista e a filosofia propriamente dita e, por isso, atribui à arte um poder de conhecimento superior ao da filosofia, pela sua capacidade de captar evidências e de possibilitar a abertura do homem à totalidade e ao devir, algo em que a filosofia revela, desde logo, a sua insuficiência» (Maria João Cantinho). IMAG.324-552

¢01NOV1936-2010 - Carlos Amado: Escultor português, cenógrafo, professor universitário - «A sua obra combinou a tradição e os valores renascentistas com um sentido de modernidade verificável, por exemplo, no Monumento ao Baleeiro na vila das capelas, na Ilha de São Miguel» (Celso Martins). IMAG.330

¯ 07NOV1926-2010 - Joan Sutherland, aliás La Stupenda: Soprano australiana - «Se juntarmos relevância discográfica a carreira operática, ela está para Donizetti como Callas para Bellini, ou Marilyn Horne para Rossini. Numa palavra: as três foram as grandes obreiras do regresso do belcanto ao reportório corrente dos teatros de ópera, aos escaparates das discotecas e, na base de tudo isso, à formação dos cantores» (Bernardo Mariano). IMAG.328

ANTIQUÁRiO

¨ 02NOV1866 - A Questão Coimbrã tem início, com a carta Bom Senso e Bom Gosto, de Antero de Quental (1842-1891) a António Feliciano de Castilho (1800-1875), em oposição «ao escândalo inaudito duma literatura desaforada». Em Bom Senso e Bom Gosto, Antero responde à carta-posfácio de Castilho, inserta no Poema da Mocidade (OUT1865) de Pinheiro Chagas (1842-1895), na qual o autor de Cartas de Eco a Narciso ironizou com as teorias filosóficas e poéticas expostas nos prefácios a Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras (ambas de 1864), de Teófilo Braga (1843-1924), e na nota posfacial das Odes Modernas de Quental (JUL1865). Antero define, ainda, «a bela, a imensa missão do escritor» como «um sacerdócio, um ofício público e religioso de guarda incorruptível das ideias, dos sentimentos, dos costumes, das obras e das palavras». IMAG.30-32-39-52-59-91-99-118-147-161-187-214-258-260-263-270-293-312-332-338-354-357-367-371-394-406-407-519-577

BREVIÁRiO

¯Ondina Pires escreveu, e edita Biografia Autorizada de Victor Gomes: Juntos Outra Vez.
 
¯Universal edita em CD, sob chancela Blue Note, Round Midnight: The Complete Blue Note Singles (1947-1952) por Thelonious Monk (1917-1982).

¨Relógio D’Água edita O Idiota de Fiodor Dostoievski (1821-1881); tradução de António Pescada. IMAG.220-281-297-310-321-377-383-506-519

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